Meu velho pai, homem emotivo e de poucas palavras
Ao longo da vida tive alguns pais que me ajudaram muito a ser quem eu sou.
Celestino Pereira Magalhães é o nome do meu pai. Português de nascença, veio ao Brasil com seis anos de idade e viveu aqui até sua morte, há cinco anos, aos oitenta e cinco anos.
Trabalhou quarenta e quatro anos no mesmo emprego, o Banco Mercantil de São Paulo, hoje parte do Bradesco. Classe média, batalhou a vida toda para dar a seus filhos estudo e comida. Tive uma boa vida, dentro das limitações salariais de meu pai.
Teve cinco filhos, sendo eu o mais velho. São quatro homens e uma mulher, a filha do meio. Dois de meus irmãos, os mais novos, são deficientes física e mentalmente, devido a um erro médico no final da gravidez de minha mãe.
Com o nascimento de meus irmãos deficientes, meu pai mudou toda sua vida. Largou o emprego de décadas e passou a viver em função de meus irmãos com necessidades especiais. Até para ir ao banheiro pensava em meus irmãos. Calculava os momentos nos quais meus irmãos estavam na escola, ou seja, dedicação total à família.
Meu pai era um homem de poucas palavras e muito emotivo. Chorava fácil por pequenas coisas, característica que puxei dele. Quando mexiam com sua família, virava um bicho. Os filhos e a esposa faziam dele o que queriam. Nunca tinha a última palavra, muito pelo contrário, acatava as decisões da família para tudo.
Gostava de manter uma certa rotina. Todas as refeições terminavam com uma banana e duas laranjas. Sempre.
Teve a morte mais linda do mundo. Disse para minha mãe que estava sentindo-se mal. Minha mãe pediu para ele sentar-se no sofá. Sentou-se e morreu em segundos. Como sempre, não deu trabalho a ninguém.
Velho, Tino, te amarei sempre! Exemplo de dignidade, trabalho e dedicação à família.
Deixou como herança minha nacionalidade portuguesa, além do respeito a todos e uma família maravilhosa.
Meus vários pais
Ao longo da vida tive alguns pais que me ajudaram muito a ser quem eu sou.
Claudio Abrahamsohn, meu pai norte-americano. Era o presidente do Bank of California, onde trabalhei por dez anos. Foi meu professor, meu mestre, ajudando-me muito em minha carreira profissional. Duro quando necessário e amoroso quando precisei. Até hoje é meu amigo.
Marcelo Nakagawa, meu consultor de vida. Trabalhou comigo no Sumitomo Bank e foi o responsável por eu entrar no mestrado e no doutorado da USP. Sujeito amoroso e crítico, sempre muito direto em suas opiniões. Sou amigo dele e de sua esposa até hoje.
Alexandre Leal, meu eterno diretor de teatro. Amigo de todas as horas, para tomar uma cerveja ou para me ouvir enquanto choro minhas mágoas. De uma inteligência gigante, é meu ídolo na área artística.
Maurício Berú, meu eterno diretor de cinema. Foi meu professor durante uns cinco anos. Ensinava artes e cinema em sua casa. Dirigiu o filme “Certas palavras com Chico Buarque”. Ensinou-me tudo que sei sobre arte, humanidades, amizades, aceitação dos diferentes, enfim, um humanista radical.
Fernando Adolfo Bueno, meu amigo desde a adolescência. Ombro largo para os amigos, sempre de bom humor e de coração aberto. Um amigo que todos precisam ter para os tempos difíceis. Ajudou-me em momentos importantes na minha vida.
Eu também sou pai
Como diz minha companheira bom-despachense, eu acho que educo minha filha, mas ela faz de mim o que quer. É possível.
Nunca quis ter filhos. Nunca. Minha ex-companheira também não queria ser mãe. Porém, quando estávamos perto dos quarenta anos, achamos que poderíamos nos arrepender e resolvemos ter um filho. No caso, uma filha.
Sou fã de minha filha. É uma pessoa cheia de problemas, como todos ser humano, mas cheia de sonhos, cheia de energias e, o melhor de tudo, cheia de talentos. Apesar de minhas eternas brigas com ela, sou feliz de ser seu pai.
Meu pai bom-despachense
Quando comecei a frequentar Bom Despacho, encontrei meu sogro, um sujeito cheio de contradições, cheio de medos e cheio de virtudes.
Não é difícil se apaixonar por um tipo tão simples como meu sogro. Criança em alguns momentos, sábio em outros, torcedor fanático do Galo na maioria dos dias, leitor voraz, adorador da natureza nos dias pares, meu sogro é quase um pai para mim. De coração grande, aceitou-me em sua família.
Ser professor é ser pai (e mãe)
O momento no qual mais me sinto pai é quando estou na sala de aula. Adoro ensinar, passar minhas experiências para os alunos, ajudá-los a buscarem seus caminhos para ter uma vida melhor.
Cuidar que quem não é seu filho é muito mais difícil do que cuidar de seus próprios descendentes. E adoro ver meus alunos se desenvolverem e vencerem na vida. Fico muito feliz quando recebo mensagens deles me agradecendo pelo novo emprego, dizendo que mudei suas vidas, afirmando que fiz a diferença em suas vidas.
Isso vale muito mais do que dinheiro. É reconhecimento.
Felicidades para todos os pais bom-despachenses
Nestes cinco anos que frequento Bom Despacho, conheci muitos pais. Tentar mencionar a todos ocuparia todo o espaço desta coluna.
Minha homenagem a todos neste mês a eles dedicado, especial menção a meu cunhado, que acaba de ser pai novamente, da menina Lara. (Imagem ilustrativa)