Romeu Zema: política é atividade que precisa ser exercida por todos
Em entrevista exclusiva dada ao Jornal de Negócios / iBOM, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, falou do seu governo, de obras para Bom Despacho e região, do agronegócio, dos seus ideais de vida e até da possibilidade de ser candidato a presidente da República em 2026. A entrevista, com duração de 30 minutos, foi dada ao editor Alexandre Borges dentro da sede do Sindicato Rural, logo após a solenidade de abertura da Expobom 2022. Veja a seguir.
Bom Despacho é um pólo do agronegócio e seu governo tem prestigiado muito este segmento. Eu começaria perguntando ao senhor: visita de governador costuma ser acompanhada de boas notícias. Que novidades o senhor traz para Bom Despacho e região aqui hoje?
Romeu Zema – Bom, Alexandre, primeiro é uma satisfação estar aqui com você, em Bom Despacho, novamente. Eu sempre menciono, Alexandre, que 80% dos mineiros moram no interior do Estado e que, no passado, a grande maioria das vezes o que nós tivemos aqui em Minas Gerais foram governadores de Belo Horizonte. E eu tenho procurado ser um governador de Minas Gerais estando presente. Notícias boas nós temos procurado trazer sempre e continuamente. Eu sou muito optante daquela tese de que é melhor aquilo que pinga sempre do que uma grande enxurrada seguida de uma grande seca. Então, o que nós temos feito, Alexandre, pelo agronegócio, são diversas lutas.
Anunciei aqui hoje – a maioria já sabia – a questão da febre aftosa: a partir do ano que vem Minas Gerais será considerada uma área livre. Com isso, os pecuaristas mineiros vão economizar 700 milhões de reais, que é o custo da aquisição da vacina, do manejo, dos controles, e além disso vão ter a carne valorizada. Então, é um ganho duplo que eles estarão tendo: menos custo e um produto mais valorizado, já que isso abre mercado.
Estamos construindo aqui nos municípios vizinhos, tanto de Nova Serrana quanto de Santo Antônio do Monte, duas subestações da Cemig pra poder levar energia trifásica aos micro e pequenos produtores rurais. Isto está sendo feito na região e será estendido para todo o Estado de Minas.
Estamos investindo no Pró-Vias, na recuperação de 2.500 quilômetros de estradas, boa parte disso para poder atender a produção rural, que utiliza muito.
Temos pago às prefeituras religiosamente em dia por passado e o presente. Isso tem proporcionado a muitas prefeituras a condição de pavimentar, como tem acontecido em algumas – isso varia muito de cidade para cidade – estradas vicinais, estradas rurais. Então hoje nós temos prefeitos – eu gosto muito de citar o prefeito Humberto Souto, de Montes Claros – que estão levando o asfalto para a zona rural. Uma grande facilidade. Isso porque o Estado está assumindo esse compromisso.
Temos ainda simplificado a parte tributária, ambiental do produtor rural.
Então eu sou um gestor que acredito muito em melhorias contínuas, sempre. É igual o condicionamento físico: você tem de estar sempre praticando, sempre fazendo. Não é um dia fazendo 10 horas de academia que vai resolver sua saúde. Então nós estamos nessa linha.
O senhor diz que um dos desafios de governo é lutar para simplificar, desburocratizar e dar mais agilidade à administração pública. Por quê? Este é também um desafio a ser enfrentado pelos municípios, governador?
Romeu Zema – Sim. A questão da agilidade é fundamental. Eu venho do setor privado e eu fiquei, em certa ocasião, com um empreendimento onde a empresa, naquela época, tinha investido coisa de 10 milhões de reais. Em vez de produzir, em vez de gerar empregos, em vez de pagar impostos, nós ficamos naquela ocasião gastando com vigilância. Por quê? Porque o Estado ficou com o processo engavetado para ser analisado – uma assinatura, um carimbo – mais de 3 anos.
Então isso acaba afugentando investimentos e inviabilizando. Eu já escutei empresários que investem hoje em Minas Gerais falarem: ‘no passado eu não investia porque ficava lá 5 anos, 7 anos, e você não tinha nem um sim e nem um não’. O que eu cobro da minha equipe é fale o sim ou o não rapidamente.
Ao assumir o governo, em 2018, o senhor encontrou o Estado muito endividado. Na sua gestão o senhor pagou aos municípios os repasses financeiros que o governo anterior ficou devendo e manteve em dia os repasses atuais. Qual é a receita desse bolo?
Romeu Zema – A receita é economizar, a começar por mim mesmo. Eu sou o governador que mora na minha casa e não no palácio, como os anteriores. Em vez de ter 32 empregadas, pagas pelo governo, eu tenho a minha diarista que eu pago. Em vez de ter 7 aeronaves à disposição eu não tenho nenhuma. E por aí vai. Em vez de ter elevador privativo eu uso o mesmo elevador de todos. E conseguimos enxugar mais de 50 mil cargos na máquina pública, melhorando a segurança, melhorando a educação.
Então não é quantidade, é qualidade. Eu acho que fazer a gestão é respeitar o dinheiro do pagador de impostos.
O senhor é um empresário realizado financeiramente. Com seu patrimônio poderia viver tranquilamente em qualquer lugar no Brasil ou do exterior. Mesmo assim, optou por assumir o desafio de ser governador das Minas Gerais. O que o motiva, governador? O que o inspira a encarar esse desafio?
Romeu Zema – Eu acho que o próprio nome que você faz aí já menciona: é desafio. Nós seres humanos queremos melhorar, queremos sempre fazer algo além, melhor do que já fizemos no passado. Tive a felicidade de ter uma empresa que eu construí que funciona sem a minha pessoa. Sou muito grato a Minas Gerais, onde a maior parte da empresa opera, e posso dizer que queria contribuir – eu de certa maneira tinha uma dívida.
Eu nunca me envolvi com política, nunca participei de campanha e acabei enxergando depois dos 50 anos que você precisa sim participar. Quem não participa como eu fiz está errando porque política é uma atividade que precisa ser exercida por todos. Não ser candidato, mas estar acompanhando, estar cobrando. Então te diria que estou pagando uma dívida do passado.
O senhor disse há pouco o que tem afirmado sempre: que o governador precisa estar presente no interior do Estado porque 80% dos mineiros moram no interior. Eu pergunto: como é ser o chefe do executivo num Estado de realidades tão diferentes e com mais de 850 municípios?
Romeu Zema – Pra mim não tem sido nada tão difícil porque a minha vida toda eu quase passei abrindo lojas em todo o Estado de Minas, em todas as regiões de Minas. Então eu já tinha conhecimento que o Sul de Minas é diferente do Triângulo, que é diferente aqui do Centro-Oeste, que é diferente do Mucuri, do Jequitinhonha e assim por diante.
E diria até que esse meu conhecimento prévio do Estado tem me ajudado, tem facilitado muito a minha gestão, porque a maioria dos governadores que nós já tivemos em Minas Gerais eram governadores de gabinete. Tinham um histórico prévio de gabinete e governavam dentro do gabinete. E eu sempre apreciei muito a gestão chão de fábrica, que agora a gente pode falar que é chão de rua, né, porque não estou mais dentro do privado. Então, pra mim, tem sido algo quase que natural, uma extensão daquilo que eu faço.
Bom Despacho fica entre Belo Horizonte e Araxá, a sua cidade. Por isso o senhor passa frequentemente aqui na porta de Bom Despacho a caminho de casa. O que chama sua atenção nessa parte do Estado?
Romeu Zema – Bom, essa estrada eu transito por ela desde criança. Fui muitas vezes com meu pai a Belo Horizonte. Fico muito satisfeito dela já ter uma parte duplicada – Nova Serrana a Belo Horizonte – e muito triste dela não estar totalmente duplicada, principalmente esse trecho de Nova Serrana até Uberaba, porque não precisamos até Araxá, precisamos até Uberaba.
Infelizmente a concessão dessa rodovia tem se mostrado uma concessão problemática, a concessionária quer devolver a rodovia, alega desequilíbrio financeiro e eu tenho sempre trabalhado com o Ministério da Infraestrutura no sentido de equacionarmos.
A boa notícia que nós temos é que eles estão finalmente encontrando uma solução para o trecho Leste, que é Belo Horizonte até o Espírito Santo, que é desmembrar a 262 da 381, o que não deixa de ser um avanço. Estão cuidando também de relicitar, reconceder essa área aqui. Eu sou um usuário frequente: 80 a 90 por cento das vezes que eu vou para Araxá eu passo por aqui.
Inclusive paro sempre ali no Barril [em Luz], onde eu sempre tomo um café, como um pão-de-queijo. Então eu mesmo sofro essas consequências. É uma rodovia que vai levar desenvolvimento para o Leste de Minas, Vale do Aço, Governador Valadares, e também aqui para o Centro-Oeste rumo ao Alto Paranaíba e Triângulo. É fundamental que ela seja duplicada. E lembrando que ainda é uma rodovia perigosa, com muitos acidentes aqui na serra.
Em agosto do ano passado o senhor esteve aqui em Bom Despacho para conhecer o projeto de levar água do São Francisco para o Rio Picão. O que achou dele e da perspectiva de criar um pólo de produção de grãos aqui na região.? De que forma o Governo de Minas poderia ou pode ajudar na implantação desse projeto?
Romeu Zema – Eu fiquei muito bem impressionado naquela ocasião. Eu já tinha escutado a respeito do projeto. Naquela ocasião inclusive o ex-ministro Alysson Paolinelli estava presente. Nós temos procurado dar total apoio. São projetos que vão envolver questões de licenciamento ambiental, talvez desapropriação. Tudo isso que depender do Estado nós estaremos juntos. E até questão financeira, apesar das nossas dificuldades financeiras, o Estado tem o BDMG que pode estar contribuindo. Isso tudo, já deixei muito claro para as associações, para o prefeito Bertolino, que nós estamos à disposição para poder fazer aquilo que estiver ao nosso alcance.
Aqui na região, a rodovia MG-164 tem importância estratégica para Bom Despacho e para outros municípios cortados por ela. É também uma estrada muito utilizada pelos estudantes da região que estudam na UNA Bom Despacho e viajam por ela todos os dias para chegar na faculdade. A MG-164, governador, é uma rodovia antiga e tem muitos problemas estruturais. Há planos do seu governo para que essa rodovia seja refeita e melhorada até para atender as demandas também do agronegócio?
Romeu Zema – Bom, nós lançamos em fevereiro deste ano o Provias. São 2 bilhões 150 milhões de reais que estão sendo investidos na recuperação de 2.500 km de asfalto, que já existia mas que estava podre. Você fazer a operação tapa-buraco você faz uma vez, faz duas, faz três mas chega uma hora que o asfalto tem que ser refeito. E o que nós estamos fazendo, depois de 10 anos somente de operação tapa-buraco, é essa recuperação efetiva, completa, do asfalto em 2.500 km.
Nós priorizamos nesse momento os piores trechos do Estado. Aqueles que estavam quase que intransitáveis. E vamos ter uma segunda etapa e uma terceira etapa do Provias. Nessa primeira 2.500 km. O ano que vem queremos mais: 2.500, 3.000 dependendo da situação.
E com toda a certeza a MG-164 que você cita será contemplada. Ainda não tenho aqui uma previsão exata porque nós temos priorizado aquelas estradas que estavam tipo intransitáveis, o que não é o caso dela que eu passei até recentemente. Precisa se melhorias? Sim. Mas estamos priorizando aquelas em pior situação.
Outra obra relevante para Bom Despacho é a construção do anel rodoviário interligando a MG-164 à BR-262. A extensão prevista é de 18 km e a previsão de custo é da ordem de R$ 30 milhões. Esse anel vai tirar o trânsito pesado de dentro da cidade, atrair empresas e criar um novo eixo de desenvolvimento em torno de BD. O prefeito Bertolino já encomendou o projeto e anunciou que pretende investir recursos do município na execução da obra. O Estado pode ou vai ajudar na construção do anel? De que forma isso poderia ser feito?
Romeu Zema – O prefeito Bertolino comentou comigo sobre esse projeto que é fundamental para o desenvolvimento de Bom Despacho. Aquilo que estiver ao nosso alcance nós iremos contribuir sim. Queremos que cidades como Bom Despacho venham a ter essa nova área de desenvolvimento que estará conectando a BR-262 à MG-164 e tudo isso significa melhoria do trânsito.
Eu saliento aqui também que nós temos tido muito a ajuda dos parlamentares via emendas parlamentares, dos deputados estaduais, federais. Nós temos feito muitas estradas em Minas Gerais a três mãos: Estado, municípios e parlamentares.
Então o Estado está disposto a contribuir sim. Não temos condição de arcar com tudo porque muitas cidades hoje pleiteiam esse tipo de investimento, principalmente aquelas que têm crescido muito como Bom Despacho.
Uma das demandas da região é o asfaltamento da ligação entre Araújos e Moema, passando pela Chapada. Esse asfaltamento beneficiaria Bom Despacho, Araújos, Santo Antônio do Monte, Moema, Lagoa da Prata e todo o entorno. Esta obra está nos planos do seu governo?
Romeu Zema – Sim, nós temos diversas obras aqui. Não estou com o mapa aqui para dar detalhes, mas está entre algumas das obras que realmente nós temos aí como prioridade. É um trecho, se não me engano, de 15, 20 km que vai propiciar essa conexão.
Hoje o senhor conheceu a Expobom. Percorreu os stands e as dependências do Parque de Exposições. Que impressão o senhor leva do evento? E como define a importância da Expobom para o agronegócio local e regional?
Romeu Zema – Esse tipo de evento como a Expobom, que está na sua 50ª versão, é um evento que só traz benefícios. Nós temos aqui uma série de expositores, onde o produtor rural pode ter contato com novas tecnologias, ver aquilo que há de mais moderno. E é um evento que movimenta a economia local, traz pessoas de outras cidades, de outras regiões, que acabam usando aqui de hotéis, de restaurantes, etc. E esse intercâmbio, essa troca de ideias é fundamental para que o homem do campo, que muitas vezes vive ali dentro da sua propriedade, tenha condição de ter contato com aquilo que há de mais produtivo, de mais moderno e estar levando aí para o seu negócio. Então, é um tipo de evento que nós temos incentivado sempre.
E fica aqui meus parabéns para o Sindicato Rural, para o Patrick que está aí organizando, promovendo o evento, e também para a FAEMG, que tem sempre apoiado esse tipo de evento, principalmente na gestão do Toninho [presidente da FAEMG].
O prefeito de Bom Despacho, Doutor Bertolino, é apoiador seu. Como é sua relação com Bertolino?
Romeu Zema – Minha relação com o Doutor Bertolino é a melhor possível. Tive a satisfação de conhecer o ex-prefeito também, Fernando [Cabral], e tanto com um quanto com outro tem sido uma relação muito respeitosa. E fico muito satisfeito do Bertolino estar conseguindo levar aqui grandes investimentos em prol da cidade, trazendo novas empresas, gerando empregos aqui, que é aquilo que toda a população de Minas almeja.
O senhor é o típico mineiro do interior – aquele que nós dizemos que age calado e come quieto. Mas atrás desse jeito simples do senhor, desse jeito matreiro, o senhor faz planos de vôo maiores? Se for reeleito este ano, está nos seus planos ser candidato à presidência da República em 2026?
Romeu Zema – Se alguém me perguntasse há 5 anos atrás se eu seria candidato a governador, eu ia dizer que nunca, nunca passou pela minha mente ser político. E hoje estou aqui como candidato a governador.
Eu gosto de fazer cada andar ao seu tempo. Se você está no segundo andar do prédio, vamos planejar o terceiro. Está no terceiro, o quarto. Então nesse momento a minha prioridade é essa pré-campanha a governador de Minas. E se lá na frente nós tivermos um segundo governo bem avaliado, tivermos apoio, eu acho que isso pode acontecer naturalmente, mas não é algo que eu planejo. É algo que eu vejo que tem de acontecer.
Vamos resolver Minas primeiro, nós temos grandes desafios em Minas Gerais. Precisamos focar aqui em Minas. E se Minas der muito certo, quem sabe nós poderemos contribuir aí com algo maior, mas por hora meu foco é Minas Gerais. (iBOM / Foto: Ricardo Santos).
Pingback: Zema recebe o projeto de levar água para o Rio Picão - iBom