Conseguimos eleger um deputado de Bom Despacho?

Estamos em ano eleitoral e o tema começa a aquecer os bate-papos em todo o país. Quem será o presidente, quem será o governador, quem serão os senadores, deputados federais e estaduais eleitos ao final deste 2022? Apesar de ainda faltarem mais de 6 meses, a política tem nos mobilizado quase permanentemente. Em ano eleitoral, a pauta fica ainda mais quente. Você já deve ter seus palpites…

Um tema recorrente aqui na cidade é a falta que nos faz um deputado bom-despachense. Há deputados que mantêm uma relação próxima com a cidade, que nos visitam e destinam recursos com frequência, que participam da política local. Há ainda aqueles que aparecem muito de vez em quando, seja intervindo em alguma polêmica ou enviando recursos via emendas parlamentares. Há até quem se diga bom-despachense porque tenha laços ou raízes familiares ou tenha uma relação de longa data conosco. Mas bom-despachense não há, nem deputado estadual, nem federal.

Pois bem, como em outras eleições, começam a surgir nomes de candidatos a deputado estadual e federal por Bom Despacho. Todos, claro, apresentando promessas de que podem fazer grande diferença pelo município, buscando alianças e partidos que suportem suas candidaturas e abrindo-nos um leque de opções. São nomes conhecidos em BD, políticos que já conquistaram vitórias expressivas e têm sim uma boa base eleitoral na cidade. Mas os números estão contra nós…

Na última eleição, em 2020, Bom Despacho teve pouco mais de 28 mil votos, dos quais cerca de 25 mil válidos. Na última eleição para deputados federais, em 2018, 94% dos 53 eleitos por Minas Gerais tiveram mais de 50 mil votos válidos. No caso dos deputados estaduais, que são em maior número (77), 92% dos eleitos tiveram mais de 25 mil votos. Mais fácil fazer um deputado estadual? Estatisticamente, sim. Mas, sendo realista, ambos são praticamente impossíveis para um município do porte de Bom Despacho, ainda mais com a fragmentação de candidaturas que temos.

O que poderia mudar esse quadro? Precisamos de algum candidato que seja conhecido e positivamente reconhecido além dos limites de BD. Esse nome pode surgir ao acaso, pela projeção de algum grande talento artístico ou de um participante de um reality show de projeção nacional ou de um cidadão que se torne celebridade nas redes sociais. Temos muitos casos de parlamentares estaduais e federais eleitos assim. Essas celebridades constroem uma imagem que vai muito além dos nossos limites geográficos e tem uma votação potencial bem além dos nossos 30 mil eleitores.

É ainda possível a construção de um político por meio de robusto financiamento de campanha, seja pelo fundão ou por doações. Há também muitos casos assim, talvez a maioria. São políticos financiados por famílias ricas, por grandes grupos econômicos ou os “escolhidos” por grandes partidos políticos. Então poderíamos sim ver a construção da imagem de um político à base de muito gasto de campanha. Sem me aprofundar, não acredito que seja um bom caminho a adotar.

Outro caminho possível é identificar uma liderança setorial de relevância estadual ou nacional. Pode ser uma liderança que ascendeu dentro de uma organização social, ou uma liderança sindical, ou um empresário que se tornou líder em determinado setor econômico. Essas pessoas podem se tornar candidatas naturais para um cargo eletivo se forem reconhecidas como líderes nos seus setores no estado de Minas Gerais ou no Brasil, porque as pessoas que fazem parte ou estão dentro desse círculo de influência serão seus eleitores, independente da cidade onde nasceu ou vive o candidato. Há também uma série de parlamentares com essa característica, e talvez sejam os que melhor se encaixam no papel de “representantes”. Mas desconheço nomes com essa característica em BD.

Por fim, acredito que um político com esse perfil de representação poderia ser construído. Se, por exemplo, houvesse uma orquestração para que um nome de Bom Despacho assumisse uma secretaria no governo de Minas Gerais, essa pessoa poderia produzir pelo estado e naturalmente levar seu nome a outras regiões e municípios. Trabalhar para alguém de BD assumir a direção de uma organização social no estado de Minas Gerais seria um outro caminho. Se queremos ter influência além do Rio Capivari, precisamos levar Bom Despacho e bom-despachenses além dos nossos limites territoriais.

Podemos esperar ou torcer para acontecer. Mas acredito que podemos mais, que podemos sim fazer acontecer. Talvez não mais para as eleições deste ano, mas, quanto antes semearmos, antes colheremos.

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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