Alegrias e tristezas nas estradas de Bom Despacho

Bom Despacho é uma grande caixa de surpresas para mim. Diariamente, aprendo coisas novas nesta terra que aprendi a gostar. Além disso, o contato humano com esse povo maravilhoso e a proximidade com os animais da região me dão enorme prazer.

Este ano quase não corri pelas estradas de terra de Bom Despacho, em parte por preguiça, em parte porque optei por ir à academia de ginástica da Praça de Esportes logo pela manhã, o que me impede de correr no horário que mais gosto, que é bem cedo.

Em março, decidi voltar a correr antes de ir à academia. E por causa das corridas, algumas alegrias e tristezas cruzaram meu caminho.

Encontro com os macacos

A primeira alegria ocorreu em uma de minhas corridas pela matinha que fica depois dos Cristais. Depois de descer uma ladeira cercada de árvores de ambos os lados, cheguei a um lugar de mata bem fechada. Tomei um susto ao ver muitas árvores balançando simultaneamente e com força. Parei o exercício um pouco assustado e fui caminhando lentamente em direção à área com mais movimento. Pensei que poderiam ser vacas presas entre as plantas, ou um grupo de veados, animais que já encontrei nesta mesma matinha algumas vezes. De repente, quando me aproximei muito, um grupo de muitos macacos subiu rapidamente pelas árvores e começaram uma gritaria enorme. Paulistano que sou, me emocionei ao ver os belos animais.

Uma cobra no meio do caminho

A segunda agradável surpresa foi meu encontro com uma cobra, que calculo ter cerca de um metro. Corria pela mesma matinha, em uma área um pouco menos arborizada, com muitos eucaliptos. As folhas destas árvores estavam espalhadas pela estrada de terra, já bem secas. Misturada às folhas, apresentando a mesma color marrom acinzentada, a cobra movia-se lentamente para um buraco no chão. Como que fazendo um charme para mim, ela deslizou bem devagar para dentro da toca.

Assustado, parei uns segundos antes de ter a coragem de olhar dentro do buraco. Não vi nada, mas meu coração bateu bem acelerado. Paulistano que sou, fiquei bem feliz de ver uma cobra tão grande bem de perto.

Depois liguei para minha mãe em São Paulo e contei detalhes deste encontro. Ela me invejou, já que raramente teve a chance de estar com bichos selvagens em toda sua vida.

Uma família de quatis

Em outra corrida na mesma matinha, fui surpreendido por uma família de quatis atravessando a estrada de terra bem sombreada. Parei de correr e espreitei por uns instantes. Lembrei que corria acompanhado e que a companheira estava a uns duzentos metros de distância. Arrisquei chamá-la aos gritos. A estratégia deu certo. Ela chegou a tempo de ver os sossegados quatis ainda na estrada, protegidos pelas sobras das altas árvores. Quando chegamos a poucos metros deles, a família inteira seguiu seu caminho, desaparecendo na mata fechada.

Que inveja dos bom-despachenses, que podem conviver com tantos belos animais desde criança, ao contrário de mim, de minha família e de todos os paulistanos, que só avistam estes animais quando visitam o zoológico da cidade de São Paulo, pagando bem caro.

Poeira durante as corridas

Mas, correr não me traz apenas alegrias. Além do cansaço, que é inerente ao próprio exercício, ao bem-estar físico e mental pós corrida, passar pelas estradas de terra de Bom Despacho pode ter surpresas desagradáveis.

Uma destas coisas que acontece com muita frequência é a poeira que carros e caminhões levantam nas estradas de chão. Claro, muitas das vezes a culpa não é dos motoristas, que acabam involuntariamente espalhando a poeira por causa do tempo seco. Porém, em outras ocasiões, é perceptível que alguns motoristas aumentam a velocidade quando cruzam com um corredor ou ciclista. Há uns quinze dias, fui correndo do bairro Esplanada até o povoado da Garça. Sol forte e sem chuva. Um caminhão passou em alta velocidade e tive de parar um minuto ou mais até que a poeira baixasse. Não foi só minha respiração que reclamou, mas não enxerguei nada no meio à “neblina”.

Felizmente, no geral, os motoristas são bem-educados e passam bem devagar, respeitando os atletas amadores bom-despachenses.

Toneladas de lixo

O lixo encontrado durante a corrida me deixa muito triste. Quando encontro latinhas de refrigerante ou cerveja, sacos plásticos ou lixos recicláveis pequenos, costumo apanhá-los e levá-los até o carro e colocá-los para reciclar. Já vi muitos motoristas jogando as latinhas pela janela de seus veículos, como se isso fosse civilizado e correto com o meio ambiente. Uma pena!

Nesta semana fui correr pela manhã em uma estrada de terra que liga a Avenida Dr. Roberto Queiroz e a Estrada do Pica Pau. Que tristeza! O lixo está espalhado pelos três quilômetros que liga as duas “ruas”. No trecho bem perto da Estrada do Pica Pau, a uns 200 metros da rodovia, há um local com muito lixo, provavelmente algumas toneladas. O material não foi parar ali sozinho, claro. Algumas pessoas preferem jogar o lixo longe de seus olhos e de suas casas, sem se preocupar com o impacto de seu ato na vida dos outros bom-despachenses.

Há a responsabilidade da prefeitura, que deve limpar a cidade, mas temos de ter educação socioambiental nas escolas, nos meios de comunicação, engajamento da comunidade local, enfim, deveria ser interesse de todos que Bom Despacho fique sempre limpa e linda.

Queimando o lixo à vontade

Outra tristeza, a qual já tratei neste espaço há alguns meses, é o forte cheiro de queimado em vários pontos de Bom Despacho. As pessoas queimam lixo residencial sem a menor cerimônia, desconsiderando que o cheiro causa problemas de respiração, além de contribuir fortemente para os problemas que a poluição causa na camada de ozônio de nosso planeta, aumentando o risco de câncer, de aumento da temperatura média do planeta, derretimento das geleiras da Terra, aumento dos níveis dos oceanos, inundação das cidades litorâneas, entre muitos outros problemas. Não entendem que cada pequeno gesto ajuda ou atrapalha a todos.

Esse é um problema que só será resolvido com o envolvimento de toda a cidade, de ações educativas do poder público e de alternativas viáveis de descarte do lixo residencial especialmente nas áreas mais distantes do centro da cidade.

Para ilustrar a falta de consciência geral, relato uma breve história que aconteceu comigo há uns dez dias. Estávamos caminhando ao entardecer na rua da Justiça do Trabalho, quase chegando à Norte-Sul, quando vimos uma senhora jogando umas cascas de fruta no mato, bem na entrada da Matinha do Batalhão. Comentamos com esta senhora, em tom de brincadeira, algo como “casca de fruta, tudo bem, mas não jogue o lixo na Matinha”. A senhora, de maneira bem sincera, devolveu: “quando é lixo maior, plástico e garrafas, eu jogo mais para dentro da Matinha, para não ficar aparecendo aqui”. Explicamos que correto era jogar o lixo no lixo e deixar a prefeitura cuidar dele. Não sei se funcionou, mas mostra que o problema é bem grande.

Obrigado, Bom Despacho, por me acolher e me dar tantas coisas boas! E de me permitir contribuir para melhorar as que merecem reparo! (Fotos: Alexandre Magalhães)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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