Mulheres inesquecíveis da minha vida
Vivam as mulheres por todos os dias de suas existências. Viva o sexo feminino, cujas vidas começaram de novo e de verdade nos últimos cinquenta anos.
Viva minha mãe – in memoriam – que me abrigou em seu seio por 9 meses e me deu à luz para uma vida até aqui de 78 anos de alegrias e sofrimentos, mas sobretudo de lutas em busca de sonhos e ideais.
Viva a Margarida, esposa do Geraldinho, dançador de reinado do Engenho. Ela que, mocinha ainda, foi minha pajem. Ora ela, ora a Luíza Botelho – a Luíza Cega. Cedo ainda, se eu, bebê, prevendo os futuros embates de minha vida, perdia o sono, elas, noite velha, sentavam-se comigo nas redes de lã ou de algodão tecidas pela vovó, lá no Raposo. E aí cantavam-me ofícios de Nossa Senhora ou Cantiga do Boi da Cara Preta para me acalentar.
Salve a Arminda do sô Bernardinho lá da Lagoa Seca, cozinheira da fazenda. Espigada, magra, de bonitos olhos miúdos e vivos! Arminda da Lagoa Seca que me curava e a todos os meus 10 irmãos e primos, de mau olhado e quebranto na beira do fogão de lenha, com um copo d’água, preces, brasas e carvão.
Agora abraço as mulheres que mesmo não sendo minhas mães, deram-me à luz, não num leito ou numa sala de hospital, porém numa sala de aula. Dona Maria Guerra, mestra inigualável, que me alfabetizou antes de eu entrar para a escola, em sua velha casa no Larguinho São Pedro. Depois prossegui aprendendo com a dona Juscelina, uma senhora idosa, alta, doce e maternal, mãe da Telica, em sua residência na Avenida São Vicente onde faleceu muito mais tarde com cerca de 100 anos de vida.
No Coronel Praxedes, conheci no primeiro ano, a professora Maria Melgaço. Era-me bela feito uma fada dos contos dos irmãos Grimm. Bonita como ela só. Vestia-se todos os dias como a Branca de Neve do baile real. Sapatos de salto altos. Vestidos de seda. Penteados chiques como os que não se viam naqueles tempos. E um batom vermelho nos lábios com o rosto com cheiro de pó-de-arroz. Menino de 7 anos, eu tinha vontade de ser seu príncipe encantado.
Um mês depois, a diretora dona Judite Couto, transferiu-me para a classe de Dona Célia Resende, que me ensinou e incentivou nos primeiros passos da redação. E até hoje não os esqueci. Já do 2º ao quarto ano, Dona Maria do Doca, aquela cujos elogios e diretrizes despertaram-me para sempre para a arte de escrever, que cultivo até hoje com paixão.
Guardo com amor e gratidão estas professoras que me iniciaram no mundo dos conhecimentos. Bem como as outras que depois vieram, no Miguel Gontijo: Auxiliadora Teixeira Guerra, dona Joesse, Lea, Leda Hamdan, Liquinha, Zazá Malaquias, Joaninha Morais… Peço perdão se alguma esqueci.
No dia da mulher, celebrado em 8 de março, sempre hei de homenagear a esposa Geni. Companheira insubstituível de uma jornada de mais de 50 anos, de um tempo, aonde, juntos, construímos um casamento cujos embaraços naturais da coexistência vêm sendo superados na construção diurna de uma vida com grande amor e compreensão.
Dos três filhos, a primogênita foi mulher. A Roberta nos ensinou a ser pais cada vez mais experientes para seus irmãos. E deu-nos a neta primogênita, a garotinha Daiana, com quem aprendemos a doçura de sermos avós. Do Bruno e da Cinara, veio-nos outro presente: a garotinha Bruna, outra neta que é nossos encantos junto com o irmãozinho Lourenço. O Tadeu filho e a Dan abriram para nós as portas do aprendizado de sermos “avós encantados” com a fofura da menininha Ellis. Mais encantados ainda estamos porque outra neta vem por aí.
Mulheres de Bom Despacho
Deixando agora este campo da vida particular, abro espaço para as mulheres que por suas atuações ganharam destaque e admiração na comunidade pública e histórica de Bom Despacho e do Brasil:
Rosalina Teodora, de quem se pode dizer, que foi essencial na consolidação do distrito do Engenho do Ribeiro e uma de suas mais destacadas benfeitoras. Chiquinha Soares, figura maiúscula, no ensino e alfabetização dos bom-despachenses, antes mesmo de nos tornarmos uma cidade. Dona Maria e Maria Auxiliadora Guerra cujas capacidades didáticas fizeram delas nomes de vulto de nossa terra. Dona Solange Quirino pelo seu profícuo trabalho como diretora da E. E. Chiquinha Soares, desde sua fundação.
Dona Alma Kohnert, a filha da Alemanha, com formação de enfermeira, que, desde 1921, trouxe a modernização aos partos em Bom Despacho, por causa dos conhecimentos e a higiene necessária ao tratar com as parturientes. Numa entrevista que fiz com ela, dona Alma me afirmou que em suas mãos nunca morreu uma mãe e só uns poucos recém-nascidos. Dona Alma merece todos os nossos preitos como heroína local.
As vereadoras Antonieta Silva e Dona Branca devem ser saudadas como as primeiras mulheres a romper com o machismo da política municipal, elegendo-se vereadoras pela primeira vez à Câmara Municipal.
Deus salve a mulher orgulho de nossa história, a irmã Maria Blasigne, a irmã Teresa de Calcutá de Bom Despacho
Mulheres do Brasil
No Brasil, elevemos os nomes das mulheres que participaram bravamente no front de guerras como Ana Néri, tendo mandado três filhos para os campos de batalhas da 1ª Guerra Mundial (1918/1921) na Europa, juntou-se aos combatentes como a primeira enfermeira a ir para um campo de batalha.
Na guerra da Independência da Bahia, tomaram parte ativa Maria Quitéria e Sóror Angélica. E o que dizer da mais afamada de nossas guerreiras, Anita Garibaldi, que ao lado do seu marido G. Garibaldi, atuou nos combates da Revolução Farroupilha no Sul do Brasil e depois na guerra da unificação da Itália, onde ela e o marido são venerados até hoje, dignos de estátuas em praça pública.
Dona Zilda Arns, braço direito do Cardeal Dom Evaristo Arns, defensores dos perseguidos, torturados e oprimidos pela Ditadura Militar de 64 e que deu a vida socorrendo os pobres do Haiti.
Às meninas de hoje, nossas mulheres de amanhã, a certeza de que com sua participação o mundo será melhor do que o de suas mães para o sexo feminino. Torço e faço votos para que isto aconteça. É o justo e o correto a se fazer.