Da política que paralisa ou impulsiona uma cidade

A política é uma ciência – ou uma arte – encantadora. A palavra teve origem na Grécia Antiga, entre 800 a.C. e 600 a.C., quando os cidadãos se organizaram em “pólis”, as cidades-estados que servem como referências até os dias atuais. A política trata das estruturas, regramento e comando para garantir harmonia no convívio entre integrantes de uma sociedade. Ela pode ser vista em diversos contextos, global, nacional, municipal, ou ainda em comunidades menores, como associações de bairro, empresas e mesmo famílias.

Você pode se considerar apolítico, mas provavelmente não é. A explicação é simples: o ser humano é um ser social e, onde há mais de um, um mínimo de organização e regramento tem que existir. Não sei onde você exercita sua política, mas você o faz e os grupos sociais prosperam à medida que isso é bem feito. Famílias se eternizam, empresas prosperam, países e cidades se desenvolvem. Notem que a política é responsável em pensar o todo, em buscar a harmonização dos interesses particulares, em estabelecer espaços para as diferenças, em potencializar oportunidades para os seus membros, em buscar condições que atendam a todos. A política cuida do todo para todos.

Ser político, entretanto, não é das tarefas mais fáceis para o ser humano. O político é, em tese, um abnegado que prioriza o interesse de sua sociedade em relação aos seus interesses particulares. Difícil. Cada um de nós é movido por objetivos, tem planos, tem uma forma de ver o mundo e se esforça ao longo da vida para estar nesse caminho e chegar a esses destinos. Quando nos tornamos políticos, deixamos então essas coisas guardadas numa caixa e assumimos uma outra personalidade? Ou serão os políticos pessoas talhadas desde sua concepção para se realizarem apenas com a busca pelo interesse comum?

Ainda que tenhamos pessoas bem-intencionadas na política, elas terão dificuldades para se despirem de tudo que têm nas suas caixas e assumirem a “nossa caixa”. Elas terão dificuldade de defender propostas que são boas para a maioria de nós, mas ruins para elas. Quando forem bem-sucedidas nisso, sendo genuínas altruístas, provavelmente não contarão com a minha e a sua compreensão se nossos interesses particulares forem prejudicados. Isso não acontece porque só gente ruim vai para a política, acontece porque é impossível atender a todos e é impossível ser totalmente altruísta. Por essas e outras, acredito que o exercício da política deveria ser temporário, mas não é disso que quero tratar hoje.

Bom Despacho está iniciando em 2022 o segundo ano de quatro da sua atual configuração política. Em 2020, reelegemos Doutor Bertolino como prefeito, em disputa equilibrada contra Joice Quirino. Escolhemos a promessa de um governo dinâmico e promotor do desenvolvimento no pós-pandemia. Elegemos também uma nova Câmara Municipal, com apenas um remanescente da legislatura anterior – renovação que, vale lembrar, já acontecera na eleição de 2016. Acompanhando a eleição majoritária, a Câmara Municipal ficou dividida, numa sequência dos embates de campanha.

Tenho a impressão de que a campanha ainda não acabou. A despeito de termos problemas, oportunidades e propostas conhecidos, a política sofreu com as disputas em Bom Despacho no ano de 2021. Nós não somos inovadores nisso, esse fenômeno já aconteceu várias vezes em Brasília, nos embates entre Presidência da República e Congresso Nacional. Em um primeiro momento, como efeito da divisão da campanha eleitoral anterior. Pouco depois, como preparação para a próxima. A política tem vivido assim, sob a égide do “quanto pior, melhor”. Adversários de campanha se tornam oposição ao governo, apoiadores viram base do governo. Assim, propostas do governo têm apoio da base e votos contrários da oposição. Propostas da oposição no legislativo têm a resistência do governo. “Faz sentido, né? Ou estou com o governo ou estou contra ele.” E assim nada relevante acontece, porque ninguém quer dar ao adversário a oportunidade de ter a iniciativa de algo bom para os eleitores.

Mas voltando ao propósito da política, você já entendeu onde quero chegar: muitos políticos perdem o foco de fazer o melhor pela sociedade que representam. Se a proposta é boa para o município, não importa o autor, deveria ter o apoio da Prefeitura e da Câmara. Se é ruim, não tem lealdade que justifique apoiar. Se há como melhorar algo bom ou como corrigir algo ruim, Prefeitura e Câmara deveriam se sentar, debater e construir uma proposta melhor.

Boicotar uma proposta boa só porque ela vem de um adversário eleitoral é colocar o orgulho, a vaidade ou os planos de uma futura campanha acima dos interesses dos cidadãos. Estão todos eleitos, em pleno exercício do mandato, é tempo de trabalhar por Bom Despacho. O interesse de um político em se reeleger ou mesmo em buscar um cargo mais alto no próximo pleito são legítimos. Mas qual a prioridade para quem está no exercício do mandato?

Acredito na capacitação de todos os eleitos em Bom Despacho. Todos têm representatividade e conhecimento suficientes para entregar mais ao município. Vejo pouco trabalho conjunto, e a política é coletiva por natureza. Ouço uma ideia aqui, outra acolá, mas poucas coisas concretas que possam mudar a vida de um município como Bom Despacho. Tem hora que parece que pavimentação asfáltica é o único projeto conjunto da política municipal.

Uma iniciativa lançada recentemente mostra que pode ser diferente. O programa Pra Frente BD, lançado neste mês de janeiro, foi proposto pela prefeitura e contou com o apoio da maioria dos vereadores. Além disso, tem as parcerias da Credesp e Credibom, nossas duas cooperativas de crédito, e da CDL/Acibom, associação que reúne empresas e empresários do município. São 5 instituições representativas reunidas em torno de uma boa iniciativa para Bom Despacho, uma demonstração do potencial que a nossa política tem.

Bora fazer mais da política que coloca o coletivo em primeiro lugar? Há muitas oportunidades.

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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