Olhe o grau, imprensa digital!
LÚCIO EMÍLIO – Há algum tempo atrás, curiosamente, encontrei em um site na internet meu blog Revista Cidade Sol elencado entre os órgãos de imprensa da cidade, ao lado desse Jornal de Negócios! O meu blog existe há quatorze anos. Ele tem desde ensaios e peças teatrais até trabalhos de faculdade, links de vídeos que cheguei a realizar (como um sobre Maura Lopes Cançado), até poemas, resenhas, indicações de outros sites ou blogs, uma verdadeira barafunda.
Queria nessa coluna retomar isso, então, e comentar a imprensa digital local. O canal Defeitos, de Ragner Lemos e o Delonge, do Tom (no youtube) são voltados para o humor mais popular. O canal da banda Bone Machine é bom canal musical
O canal Liverson Carvalho é um canal voltado para o público juvenil, focalizando no humor. Ele coloca, por exemplo, a mãe para ouvir e comentar suas impressões sobre canções de funk. O resultado é um curioso choque de gerações, uma vez que canções como Boca de Pelo narram situações inenarráveis para a minha geração e as anteriores.
Choques de gerações também ocorrem quando se trata do mundo das motocicletas. Esses são os principais assuntos de Juka do Grau, o Julianinho da Estrada Veículos, em seu perfil no Instagram. Foi através desse comunicativo rapaz que, sem dúvida, tem talento para jornalista que descobri, ao ver coberturas de eventos como “Motocando” (onde jovens se reúnem para empinar moto), o “grau” (puxar roda) é considerado por alguns um esporte em vias de ser legalizado! E vi o ex-PM Gabriel Monteiro defendendo, de forma vanguardista, a legalização desse esporte “emergente”.
À luz desses fatos, achei muito curiosa e profética uma “sinopse” que fiz de um filme de Coppola: O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish) Francis Ford Coppola, 1981, publicada no blog revista cidade sol há quatorze anos:
“O Selvagem é um filme sobre a contracultura ambientado nos anos 60, mas filmado no início dos 80. A rebeldia da juventude é o tema do livro de Susan E. Hinton em que o filme é baseado. Susan faz uma defesa da juventude rebelde, mas Coppola parece ter adicionado à história um pouco da descrença que marcou os anos 80. O filme observa a falência da crítica ingênua ao capitalismo americano. Rusty James (Matt Dillon), imagem primordial do “rebel without a cause”, é um jovem agressivo, que mora na parte pobre da cidade e deseja liderar uma gang – e elas estão “fora de moda” na época retratada no filme. O irmão mais velho de Rusty, o motorcycle boy, retorna então da Califórnia. Ele é “como a realeza no exílio” e “nasceu no lado errado do rio”. Ele pode fazer tudo o que quiser, mas ele não encontra nada que queira fazer.” O que motiva sua eliminação pela polícia é uma louca tentativa de libertar os peixes de briga de uma loja de animais (em inglês, Rumble Fishes) e levá-los para o rio. O que o establishment teme, na verdade, é a capacidade que o garoto da motocicleta tem de liderar, de encantar os jovens, de ser um herói para eles; eles o seguiriam, ele e Rusty James poderiam dominar o lado da cidade onde vivem se o garoto aceitasse. A desidratação da contracultura está explicitada nestas palavras: A Califórnia é como uma garota chapada de heroína e doida, alta como uma pipa, sentada no topo do mundo sem saber que está morrendo, nem mesmo quando você lhe mostra as marcas.”
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior é filósofo, professor e escritor.
FOTO ACIMA: Daniel, Vítor, Rodrigo (Róger) e Júlio