2022: Bicentenário da Independência do Brasil

No 7 de setembro comemoramos o Bicentenário da Independência do Brasil proclamada em 1822. Naquele dia, Paulo Bregaro, o estafeta (o carteiro) da corte entregou a D. Pedro, nas margens do Riacho do Ipiranga, em São Paulo, a correspondência vinda de Portugal. Os poderosos d’além mar ordenavam a destituição do príncipe Regente D. Pedro de seu cargo, seu imediato retorno a Lisboa e o retrocesso de nosso país a mera colônia, retirando-lhe o título que tinha de Reino Unido a Portugal e Algarves desde a chegada de D. João VI e de toda a sua corte em 1.815 ao Rio de Janeiro.

O príncipe entregou os papéis recebidos do carteiro ao Padre Belchior Pinheiro que era seu confessor e conselheiro. E de imediato ordenou-lhe que os lesse em voz alta. Ao final da leitura eloquente do sacerdote, D. Pedro, como era de costume, com voz irada, perguntou-lhe: – E agora, padre Belchior!?

Ao que o sacerdote mineiro respondeu com o peito ufano de patriotismo:

– Agora só lhe resta proclamar a Independência…

E foi o que ele fez naquele dia, naquela data de 7 de setembro, no ano de 1822, bradando: – Independência ou Morte!

Brado ecoado por toda a sua comitiva, que selou nossa separação de Portugal e o nascimento de mais uma nação livre na América Latina.

Os irmãos Andrada e o Padre Belchior

Padre Belchior aparece na pintura de Pedro Américo, montado numa grande e garbosa mula, na comitiva do futuro Imperador do Brasil. Tornou-se sem dúvida figura de destaque do grande ato da libertação de um povo. Ele era sobrinho de José Bonifácio, o Patriarca da Independência e de seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco, atores maiores também do ato de nossa independência.

Aconteceu que lá por 1824, em plena criação da Constituição Brasileira, D. Pedro, que queria uma carta ditatorial, se desentendeu com os Andradas, seus grandes amigos e conselheiros. Dono de atitudes coléricas, destituiu-os de seus cargos na constituinte e os degredou para a França.

Expulsos do torrão que amavam e defendiam, afastados do príncipe que respeitavam e assessoravam, foram colocados em um navio no Rio de Janeiro – os três irmãos e o padre Belchior – e partiram humilhados. Lá ficaram isolados e esquecidos esses grandes patriotas, que só puderam voltar a seu país, nos finais da década de 20 dos anos de 1800. Aqui retomaram seus lugares e o prestígio que os haviam consagrado como grandes e valorosos brasileiros.

 

BOM DESPACHO DE ONTEM

Bom Despacho e a Independência do Brasil

Famílias como a do Dr. Fúlvio, do Sr. Pedrinho, da antiga e consagrada Casa Pedrinho na Praça Inconfidência, a família do velho Zé Alexandre e outras dos tempos do arraial do Bom Despacho são descendentes de uma icônica figura da história de nossa cidade.

Segundo o dr. Nicolau Teixeira Leite, o mais profundo conhecedor das tradições e raízes do município, ele a conheceu nos princípios do século XX e aqui ela era chamada como Júlia, a Francesa. Era filha do Padre Belchior. Este, quando voltou da França, trouxe consigo uma menina, que segundo rezam seus inventários ele reconhecia como sua legítima filha.

Quando se tornou vigário de Pitangui, Padre Belchior a trouxe para a fazenda da Piraquara. Para a casa de uma família muito amiga dele, da qual faziam parte os irmãos José Alexandre e Alexandre José Cardoso. Seus pais eram conhecidos como Barão e Baronesa da Piraquara, mais tarde muito íntimos do Imperador Pedro Segundo. Aqui ela foi cuidada no seio dessa família e casou-se aos 12 anos com um dos irmãos Cardoso.

Júlia teve vários filhos e filhas que vieram formar as famílias que já citei e outras mais. São bom-despachenses legítimos, descendente do Padre Belchior, seu antepassado ilustre que os liga e liga a nossa cidade ao palco do grito da “Independência ou Morte”, às margens do Ipiranga em São Paulo. Gente que pode dizer com orgulho que Padre Belchior seu pai, avô, bisavô, trisavô ou mais participou do 7 de setembro de 1822, 200 anos atrás, da decisão de D. Pedro de separar o nosso país de Portugal.

 

BOM DESPACHO DE HOJE

O Progresso e a Paz

Nos anos 60, antes do golpe de 1964, quando a maioria dos jovens e dos estudantes lutavam pela igualdade, a paz e a justiça social em todo o país, um dos nossos grandes ícones era o Papa João XXIII. Em uma de suas prédicas ele afirmou que “ o novo nome da paz era o progresso. ” Aliás o adágio popular já dizia que “em casa que falta pão ninguém tem razão”.

Hoje, com base na afirmação daquele amado Sumo Pontífice, ouso afirmar que nossos empresários contribuem não só para o desenvolvimento, mas também para a paz da comunidade local.

Com suas empresas e projetos eles geram empregos que harmonizam os cidadãos, as famílias e o progresso do povo e permanecem em nossa memória. Entre os que se destacaram em Bom Despacho, eu me lembro, embora fosse bem criança, da projeção que tinha, nos anos de 1950, a firma comercial dos Costa Irmãos, de José Teodoro e dos filhos Burrutê e Quinzinho com grande armazém na esquina da Rua Marechal Floriano Peixoto com Avenida São Vicente.

Depois surgiu como enorme potência econômica o comércio do Leão da Esquina, de Dona Maria, Antônio Orsini, Noel e depois João Canoa, cuja sede paulatina e apropriadamente se instalou em várias esquinas do centro da cidade. Eles foram os primeiros a modernizar o centro da cidade com construção de grandes prédios na Praça da Matriz.

Dr. Fúlvio Cardoso

Não podemos nos esquecer do Dr. Fulvio Cardoso, homenageado com uma placa de “O Industrial” pelo Dr. Robinson no Sesc. Industrial da Fábrica de Tecidos e da Companhia Força e Luz, que tantos benefícios trouxeram ao município e à sua população. E nesse grupo seleto de benfeitores, lembramo-nos de Afonso Nogueira, Pedro Gontijo e outros no ramo dos altos fornos. Os supermercados Fidelis, liderados pelo Elísio Fidelis inicialmente. O Almir do Vap, Rafael Martins na indústria do polvilho. A Cooperativa Agropecuária. Na área de crédito as cooperativas do Sicoob, lideradas habilidosamente pelo empresário José Fúlvio Cardoso. Na área da medicina, as enormes conquistas da Santa Casa.

Atualmente, entre tantas potências econômicas do município, há que se destacar o surgimento do empreendedorismo genial dos irmãos Eduardo e Tarcísio (o Guerra) Amaral, que enaltecem Bom Despacho em diversos ramos das atividades econômicas: agropecuária, granjas de aves, sapatos e tênis – fábrica dos enteados de Eduardo Amaral com produção de 10 mil pares por mês e criação de 800 empregos no setor

E coroando seus empreendimentos, a potente fábrica de ração animal que junto com outros empreendimentos enriquecem a zona urbana com belas e funcionais construções civis.

Tudo isto mostra Bom Despacho com uma face de cidade mais moderna e mais feliz, esse progresso é segundo o Papa João XXIII o nome da paz social.
Benvindo, pois, a nossos pequenos e grandes empresários, que não tive como citar a todos, à nossa terra do Bom Despacho do Vale do Picão.

O menino, a gramática, a chuva e o sol

A Gramática de Domingos Paschoal Cegalla, entre as figuras de linguagem, destaca que personificação ou onomatopeia “é a figura pela qual fazemos os seres inanimados ou irracionais agirem e sentirem como pessoas humanas.”

O pequeno Rafael, de 3 anos, com os pais Gabriela e Alisson

Exemplo: O jardim que o luar acaricia… / Os sinos chamam para o amor / O rio tinha entrado em agonia.

Vejam a onomatopeia expressiva criada pelo Rafael, filho de 3 anos do Alisson e da Gabriela, para expressar a amolação com tanta chuva ininterrupta dos últimos dias em Minas Gerais.

Disse o menino para interpretar o sentimento dos adultos e talvez os dele próprio: “Mamãe, o sol está cansado dessa chuva!”

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

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