O fantasma dos Natais futuros

Quando criança, adorava a Sessão da Tarde. Era (e ainda é) uma tradicional sessão de filmes nas tardes de 2ª a 6ª feira numa rede de TV. E por que eu adorava? Porque falar em Sessão da Tarde era sinal de que eu estava de férias da escola! Em período letivo, a gente não podia assistir, a não ser nos feriados. Mas nas férias… Ah, como eu curtia a liberdade de poder assistir!

Nas férias de dezembro, os filmes natalinos eram figurinhas carimbadas na programação, alguns dos que eu curtia assistir. Havia os bíblicos, aqueles de Papai Noel, outros sobre viagens em família. Uma “variedade” que sempre me instigava eram os que tratavam das reflexões de Natal. Um de que me lembro trazia um personagem que levava uma vida de aparente felicidade, com sucesso e realização econômica e profissional. Aproximando-se mais um Natal, nosso protagonista não dava a mínima para a data, maltratava e dificultava a vida de quem valorizava a celebração, e ainda fazia questão de ressaltar que essas “celebrações” de final de ano eram um atraso de vida. Daí aparecia o Fantasma dos Natais Passados, um espírito que vinha fazer nosso personagem revisitar momentos de seu passado que haviam sido decisivos para torná-lo insensível ao que importa de verdade.

E o que importa de verdade? Um estudo divulgado há poucos anos por um grupo de pesquisa de Harvard tentou responder à pergunta “o que faz as pessoas felizes?”. Eles começaram a acompanhar, na década de 1930, um grupo de adolescentes de diferentes grupos e padrões socioeconômicos. Anualmente, os pesquisadores entravam em contato com as pessoas que faziam parte do estudo e avaliavam como caminhava suas vidas. Os primeiros resultados foram apresentados em 2015, depois de mais de 80 anos de pesquisa. Procure depois o TED de Robert Waldinger, sobre “o que faz uma vida boa”. Vale a pena assistir.

Dando um rápido spoiler, os pesquisadores descobriram que, milionários, pobres, Presidente da República ou entregador de pizza, um único fator se comprovou determinante para a felicidade daquelas pessoas: a qualidade das relações humanas que construíram e mantiveram ao longo da vida, especialmente as mais próximas. Para perplexidade da cultura que vende que dinheiro e ascensão social são os objetivos a serem buscados, a pesquisa mostrou que amor em família e grandes amigos são muito mais valiosos do que fortuna ou sucesso. Um abraço sincero, uma risada contagiosa à mesa de jantar numa 3ª feira qualquer ou uma ceia de Natal com meia dúzia de tios, outra dúzia de primos e agregados, empadinha, pão de queijo com pernil, refri e cervejinha, amigo oculto no meio da noite, ir embora abraçado aos filhos pela rua afora… É bom demais!

Sei que o Natal não é o mesmo para todos, e respeito. Mas sei que o final de ano é sempre um momento de reflexão, de encontrar a família, de estar com amigos, de pensar um pouquinho sobre a vida, de estabelecer metas, de chorar, de festejar e renovar a vida. Se não quiser ouvir o Fantasma dos Natais Passados, ouça Harvard, ouça os mais experientes, ou simplesmente ouça o seu coração. Eu não tenho medo de fantasmas ou dos Natais passados, mas tenho receio de perdermos o melhor da vida só porque prestamos mais atenção ao sucesso, poder ou dinheiro do que a nós, bons, velhos e novos seres humanos.

Um Feliz Natal, Feliz Ano Novo, com muito calor humano, para você e para os seus! Juntos!

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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