A primeira rua de Bom Despacho
Peço licença ao Orlando Ferreira de Freitas, mestre nas artes das pesquisas genealógicas e históricas de nossa região e de nossa cidade, para afirmar aqui uma verdade que ainda não saiu nos livros dele. Um desses livros é o “Raízes de Bom Despacho”, que ele publicou a meu pedido quando eu era secretário de Cultura no mandato do Geraldo Simão Vaz.
Pesquisando com profundidade em arquivos de 300 anos para cá, em Minas e principalmente no arquivo de Pitangui, Orlando descobriu que por volta de 1777/78 tropas de capitães do mato e milícias públicas de Pitangui montaram um acampamento no alto da atual Cruz do Monte, para avistarem povoamentos quilombolas na região e combatê-los a ferro e fogo, como deveras foi feito, em nome do rei de Portugal. Lá construíram estábulos para os animais, casas para os combatentes e uma capelinha rústica de capim. Nesta capelinha o Padre Agostinho, capelão das tropas, mandou construir uma capelinha rústica de capim. Dentro dela entronizou uma imagem de Nª Srª do Bom Despacho, que passou a dar nome ao futuro povoado e ao município, onde hoje vivemos, há mais de dois séculos..,
Ora, sei pela história que o arraial de Bom Despacho contava nos seus primórdios com três ruas: nos idos de 1778-1780: a Rua de Cima, antiga rua do Céu, que ia da Cruz do Monte até o centro atual da cidade; a Rua do Meio, do lado da casa paroquial de hoje até a Rua de Baixo, a nossa moderna Rua Dr. Miguel.
Então qual a primeira rua a se formar no povoado de Bom Despacho? Fácil como o ovo de Colombo. Todos dirão que é claro, que foi a rua de Cima, Rua do Céu depois e Rua Flávio Cançado nos dias atuais.
Mas modestamente tive um insigth nesta semana: uai, a Rua do Céu, antes Rua de Cima, ligada ao nosso berço, Cruz do Monte, dali brotou logicamente antes das outras, há mais de 200 anos, formando a primeira via pública do arraial, seguida da Rua do Meio e da Rua de Baixo. Assim nasceu um povoado. Nasceu nossa cidade de Bom Despacho. Nos dias de hoje com prédios, arranha-céus e incontável número de ruas e avenidas, orgulho do centro-oeste das Minas Gerais.
Peço licença, pois, para registrar nos anais da história meu humilde nome como autor dessa informação que descobri matutando, por acaso, porque por sorte minha nem um de nossos três historiadores maiores, que tanto expuseram as raízes de nossa terra – Padre Nicolau, Orlando e Dr. Laércio – se lembraram de expor tal enigma: qual a primeira rua da história de Bom Despacho?
Confesso mais uma vez com alegria que fui eu. A importância sempre lembrada e cantada em versos e prosa: a antiga Rua de Cima ou antiga Rua do Céu. Confesso que nem sei a importância ou se há importância disso para os anais de nossa história. Se é que o historiador Orlando Ferreira Freitas concorda comigo? Aguardo seu aval, mestre.
A volta do nome Rua do Céu
Creio que esse é um nome ímpar nos topônimos de vias públicas do Brasil. Nome bonito, poético e significativo. Privilégio da cidade de Bom Despacho. Uma joia de nossa história. Nome dado pelos primeiros moradores daqui. Eles olharam aquela rua bonita que subia cá de baixo, da atual praça da matriz, até lá no alto da montanha, na Cruz do Monte. Algum poeta, talvez, tenha-a nomeado. E os moradores começaram carinhosamente a chamá-la de Rua do Céu.
Mas nos anos 50 morreu uma autoridade, um velho ex-prefeito e farmacêutico de Bom Despacho: Flávio Cançado Filho. A nossa egrégia Câmara Municipal ficou procurando uma Rua no Centro para batizá-la com o nome de sua excelência falecida. E aí, sem sensibilidade nenhuma, sem respeito à nossa cultura e às nossas tradições, arrancaram as placas e o nome da Rua do Céu e puseram nela o nome do ex-prefeito, merecedor de tão justa homenagem.
Hoje mais consciente, o povo fala em resgatar o topônimo Rua do Céu.
– É muito difícil, disse alguém que conversava sobre o assunto numa roda com um de nossos últimos vigários dos dias de hoje, que ponderou:
– Acho que não. Acho até fácil para voltar o nome dessa rua, que a maioria sonha voltar. Mas é preciso envolvimento, vontade e esforço. Alguns segmentos da comunidade, incluindo os vereadores e o prefeito, ficam de olho e escolherão uma via pública nova e importante, num bairro nobre e reservam seu nome para acolher o do cidadão que ocupa o nome da Rua do Céu. Tudo bem feito e de acordo com os familiares do ex-prefeito. E assim certamente todos se darão por satisfeitos. E assim Bom Despacho reconquistará um ícone de sua história e de sua cultura.
A partir da fala do vigário os participantes da roda de bate-papo concluíram que o padre tinha razão, e que havia esperança sim de se realizar aquele nobre projeto.
Mais um texto brilhante, professor Tadeu. A volta do nome rua do Céu será de grande importância para a história de Bom Despacho, não podemos nos esquecer de nossas raízes.