Reis do Tuíste em BD: glória e triste fim
LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – O tuíste, dança que era sucesso no inicio dos anos 60, foi personificada em Bom Despacho na figura do Zé Paulino.
Segundo Kid Vinil, a dança surgiu a partir de uma canção de Hank Ballard, que viu o sucesso da dança entre adolescentes da Flórida e resolveu gravá-la. Muito antes, era popular uma dança semelhante entre os negros norte-americanos e, supõe-se, a origem da dança ocorreu no oeste africano, bem como ocorreram gravações anteriores.
Bill Haley e os Cometas foi a banda que explodiu com esse ritmo. Primeiro lançaram uma canção, mas ela só aconteceu quando foi trilha sonora do filme Sementes de Violência. Esse filme interessa-me muito. O título original era “Blackboard Jungle”, ou seja, a “Selva do Quadro-Negro”. É uma narrativa de grande interesse para mim, que sou professor. Nele, um jovem professor, recém-formado, retorna à sua cidade para tentar mudar a realidade. No entanto, os jovens sofrem com tensões raciais e brigas entre gangues. Ele mostra sua coleção de jazz e os jovens a quebram, daí entra a canção de Bill Haley falando sobre o tuíste. Era uma cena muito marcante, mas que infelizmente marca também a nossa sociedade: o vandalismo e o desprezo com os valores do outro, de uma outra geração, especialmente. É uma questão ainda hoje muito atual para quem lida com juventude. E, no filme, marcou o surgimento da era do rock and roll e do fim da era do jazz. Quebrando os discos, os jovens rompiam com o passado.
Perto da Escola Miguel Gontijo morava um rapaz, José Paulino, a quem chamavam Rei do Tuíste. Não era bonito, mas seus pés, sim. Os sapatos de bico fino, bem engraxados, tinham vida à parte enquanto dançavam no ritmo frenético do tuíste. Era um ritmo delicioso, que exigia extrema habilidade do bailarino.
Zé Paulino apresentava-se na carroceria de um caminhão, em frente onde hoje é o Banco Itaú. Usava topete e toda a indumentária ligada a essa dança. Os amigos diziam que ia a Belo Horizonte comprar os discos e levar para as festas.
Infelizmente, não encontramos nenhuma foto dele para reproduzir aqui.
Anos depois, conta minha mãe, meus pais foram vizinhos dele em Uberaba. Zé Paulino tinha entrado para a Polícia Militar e estava fazendo patrulhamento fluvial no Rio Grande. Ele não atinou para o horário em que as comportas das águas se abririam em uma usina próxima.
As águas levaram o barco. Os corpos dos três tripulantes foram encontrados três dias depois. Os gritos desesperados da esposa ecoaram pela praça, quando soube da morte do marido por afogamento.
Outra teoria, exposta por meu tio Paulo Morais, propõe que o rei do tuíste em Bom Despacho era o José Maria Rocha, filho do Sr. Roldão. O José Maria Rocha dançou tuíste anteriormente ao Zé Paulino, mas foi Zé Paulino quem celebrizou-se aqui na cidade. Era o nosso Chubby Cheker. Nas memórias de mamãe, os pés de Zé Paulino adolescente interpunham-se aos gritos da viúva. Zé Paulino teve sua glória e um triste fim.