A natureza em Bom Despacho é surpreendente

A natureza em Bom Despacho é surpreendente, especialmente para um paulistano, cuja principal característica da cidade natal é não ter natureza alguma. Na cidade de São Paulo não há rios vivos, apenas grandes esgotos. Tanto o Rio Pinheiros, como o Tietê e o Tamanduateí são vergonhas que correm pelo território paulistano.

Fora os cães e gatos, tratados como filhos por enorme parte dos paulistanos, os animais símbolos de minha cidade natal são pombos e ratos, pois abundam por todo o território e ajudam a transmitir doenças para a população.

São poucos parques para uma população tão grande, que atinge vinte milhões de pessoas, contando as sete cidades conurbadas (sem divisões claras entre os municípios) com a cidade de São Paulo. Há os conhecidos Parque do Ibirapuera, do Carmo, o Horto Florestal, cujas matas eu frequentei muito em minha infância, mas todos cercados por grades e com horários rígidos de visita.

Por isso, quando estou em Bom Despacho, não perco a chance de sair do perímetro urbano e correr ou pedalar pelo meio das fazendas ou áreas verdes.

Depois que a segunda onda da covid-19 chegou forte a Bom Despacho, eu e minha namorada bom-despachense decidimos que passaríamos a correr longe de áreas que sabemos que encontraríamos pessoas conhecidas, o que aumenta o risco de parar para conversar e, claro, transmitir o novo coronavírus.

Optamos por correr em uma fazenda lá pelos lados dos Cristais, cujo dono é amigo da família e nos autorizou a usar sua propriedade para nossos exercícios. O bom de correr nessa área é que ela tem uma mata fechada de dois quilómetros de comprimento. Lugar maravilhoso de fazer os exercícios, pois tem árvores bem altas, com pouquíssimo sol, o que nos permite correr a qualquer horário do dia, sem perigo de enfrentar um sol fortíssimo.

Mais fotos da estrada:

 

 

 

 

 

Neste último domingo, acordamos bem tarde e saímos para correr perto das onze horas da manhã. O sol e o calor estavam muito fortes no caminho para chegar à esta matinha. Quando começamos o exercício, as árvores não só nos protegeram do sol, como nos deram uma agradável sensação de frescor.

Como sempre, centenas de borboletas de várias cores estavam em nosso percurso. A que mais me emociona ver é uma enorme, com a parte interna das asas de um azul claro cintilante. Tentei filmá-las em várias ocasiões, não só na corrida desse domingo, mas, o máximo que consegui, foram três ou quatro segundos, nos quais só se pode ver o lindo azul aparecendo aqui e acolá.

No meio do treino, já perto do quinto ou sexto quilómetro, minha namorada bom-despachense gritou para mim: “olhe lá, dois veadinhos… que lindeza!”. Olhei a minha frente e vi dois animais avermelhados no caminho que iriámos passar em alguns segundos. Corremos mais alguns poucos metros, os animais ouviram nossos passos no chão de terra, levantaram as cabeças, nos viram e sumiram no meio da mata fechada.

Aumentei a passada, enquanto puxava o celular do bolso, achava câmera para deixá-la preparada para fotografar os veados. Quando cheguei ao ponto onde eles haviam sumido na mata, não mais os encontrei. Espertamente, eles não quiseram pagar para ver se éramos amigos ou inimigos deles.

Fiquei triste de não os ter fotografado. Não por mim, mas porque queria ter enviado as imagens para minha mãe, irmãos e filha que estão em São Paulo. Com absoluta certeza, eles nunca viram um desses lindos animais na natureza, apenas no zoológico.

Porém, como não consegui eternizar essa imagem, contentei-me em relatar o encontro com os veados no grupo da família no WhatsApp.

Como consolo, enviei o vídeo mostrando alguns segundos das borboletas azuis. Assim, viram o local em que estávamos correndo, que é um lugar lindíssimo, com uma bela mata fechada, e tiveram uma ideia da cor da borboleta. Ficaram felizes e invejosos. Minha filha me ligou em seguida, dizendo que quer vir para Bom Despacho assim que a pandemia acabar ou reduzir as mortes, para conhecer aquele local, que ela definiu como “mágico”. Para um paulistano, um lugar com centenas de borboletas e com dois veadinhos livres, é realmente um lugar mágico.

Contei a ela que é muito comum ouvirmos os macacos gritando enquanto corremos. Minha namorada bom-despachense acredita que são bugios, pelo tipo de som que emitem.

Agora, todos os dias que estiver me exercitando naquela mata, vou ficar tentando achar aqueles animais e, quem sabe, conseguir fotografá-los. Isso é bom, pois nem vou prestar atenção no cansaço da corrida, já que minha mente estará focada em reencontrar meus amigos avermelhados.

Quando estávamos voltando para casa, já no carro, minha namorada comentou: “o pessoal da região diz que onde há veados, há onças…”. Ai, que medo…

Seria lindo, algum dia, encontrar uma onça durante a corrida. Mas, já ganhei o dia vendo os veadinhos… A natureza em Bom Despacho é realmente surpreendente… especialmente para um paulistano completamente ignorante em tudo que não feito de concreto e cimento. Obrigado, Bom Despacho!

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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