Saudades e gratidão a meus professores do Miguel Gontijo

CRÔNICA DE MARIA ANTÔNIA SEIDLER KOHNERT GONTIJO TEIXEIRA, QUE PUBLICO NESTA COLUNA.

Presto uma homenagem aos nossos queridos professores pois nem sempre tivemos oportunidade de fazê-lo pessoalmente. Vou pedir desculpas, pois um agradecimento só não será suficiente. Obrigada, obrigada, obrigada. Vocês deixaram que cada um de nós usufruíssemos dos seus estudos, dedicações, paciência, perseverança, daquilo que adquiriram pela vida e numa época de duras penas.

Um preito à memória de Dona Auxiliadora: mestra querida!

Voltando aos meus primeiros anos escolares, quando chegou à nossa escola, o Grupo Escolar Coronel Praxedes, uma moça nova, magrinha, elegante e que se chamava Maria Auxiliadora Teixeira Guerra e que seria a diretora. De repente me vejo perfilada com tantos colegas em um pátio central. Filas retas, sem brincadeiras, pois a hora do recreio havia acabado e era hora de cantar hinos próprios da ocasião. Terminadas as homenagens respeitosas, sempre vinha um aparte da nossa diretora, perfilada no andar superior junto a um gradil. Muitas vezes, avisos sobre comportamento e que ela terminava com ênfase: – Ouviram, meninos? – ao que prontamente respondíamos:

– Ouviram.

Sempre a mesma resposta e ninguém nos ensinava a forma correta para ouvimos.

Fim do primário. Formatura e preparação para a festa. D. Divina Campos oferecia a sua casa para os ensaios e o professor Geraldo Magela fazendo e refazendo letra para o coro cantar: – “Adeus nós dizemos à escola querida, feliz despedida me enche de luz…”. Logo aprendi a letra, pois a música já estava na minha cabeça, porque eram músicas de autores alemães em que o professor colocava novas letras pertinentes ao momento.

Fui para o ginásio, aí um novo diretor, o professor Nicolau Teixeira Leite, que se pautava com respeito, pontualidade e dedicação. Passamos pelos ensinamentos do inglês do Júlio Malaquias, do francês do Calais, latim do Elvino, português do professor Magela e matemática também, e mais pelas professoras Léia, Joesse, dona Liquinha e Clarinda, o Paulinho Teixeira e o padre Vicente, filho do Dr. Nicolau, com suas aulas de Sociologia. Raramente um professor faltava e quando isso acontecia lá vinha o Dr. Nicolau, que nos dava aula de história de Bom Despacho, e todos nós gostávamos. Tínhamos respeito e agradecimento pela oportunidade que estávamos tendo. Muitos de nós teríamos ficado apenas com quatro anos do primário se não fosse o ginásio não muito tempo ali criado.

Maria Antônia (à direita) com as amigas Geni e Alilas, todas ex-alunas de Dona Auxiliadora

Curso Normal
Chega a época do curso Normal de Formação de Professores. Fomos apresentados para uma nova professora que chegara de Belo Horizonte com uma bagagem de conhecimentos novos, livros aos montões. Aos poucos percebi que meu horizonte se abria como um leque e que a d. Auxiliadora os abanava em nossa direção. Tínhamos que aspirá-las, comê-las, deliciarmo-nos com as novidades. Tempos duros, dolorosos, mas enriquecedores. Técnicas novas, experimentações às vezes nem concluídas nos eram apresentadas e tínhamos que refutar ou mesmo discutir os seus valores. As instigações foram conduzidas pela vida afora. Abrir as portas do conhecimento e cair dentro do questionamento e evolução foi a nossa meta. Não me esqueço do estágio, em clínicas especializadas em desvio de aprendizagem, em Belo Horizonte. Este estágio foi para sabermos que nem todos aprendemos igual e que precisamos “respeitar as diferenças individuais”, o que ela sempre repetia e daí as técnicas de trabalho diversificado dentro da sala de aula.

Fui indicada para as classes de demonstração do Curso Normal e então era orientação quase que diária, complementação e impulsos da Geni Eugênia Gontijo Teixeira. Trabalhamos sem esmorecer. Naquela época tinha na parte de trás da minha porta da sala de aula uma frase tirada dos muitos livros que a d. Auxiliadora nos indicou: “- Ouvi a voz de cada aluno hoje? “

Os conselhos dados por ela e até a confiança em mim depositada foi muito gratificante. Fui indicada para substituí-la em aulas de “Didática teórica e prática” numa turma do primeiro ano do curso Normal de Formação de Professores. Foram poucos meses, mas algo tinha sido captado: tenho que aprender muito mais e continuar estudando.

Fui para o Rio de Janeiro, prestei vestibular, passei em um curso novo, Logopedia, e hoje se chama Fonoaudiologia. Os contatos com Bom Despacho não se encerraram e, sempre que voltava, uma visita era indispensável para trocar ideias com a d. Auxiliadora. A Geni, amiga da vida toda, ali presente, e nós três formávamos uma equipe de descobertas. Hoje, com cinquenta e muitos anos passados e sem a presença dela, estamos cheias de gratificação, recheadas de sabedoria e cientes de que ainda temos muito a aprender. Também hoje, rezando para a esclerose não me roubar a capacidade daquilo que aprendi, pois foram os nossos professores que nos apresentaram as oportunidades da vida. Sempre aprendemos e não só com os professores, mas com os alunos e sobretudo com a vida.

Saudades e gratidão dos meus mestres dos anos 50 e 60.

Obrigada professores queridos, parabéns pela vida pautada de dignidade e dever cumprido, saudade de vocês e de todos os colegas, num tempo em que iniciávamos as nossas descobertas e vocês nos dirigiram para o caminho certo, não só através de conhecimentos dos livros, mas dos exemplos pessoais.

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