Jornal de Negócios me deu uma das maiores alegrias de minha vida
Eu adoro falar do contexto da vida, dos fatos que não temos domínio, das coincidências dos encontros e desencontros. Recentemente, escrevi um texto no Jornal de Negócios, cujo título era “O que ir buscar um cigarro não é capaz de causar na vida”, que foi publicado no dia 3 de novembro, e que relatava o contexto da vida que me fez conhecer e me apaixonar por minha namorada bom-despachense.
Esse tema, o imponderável, o contexto, o conhecer pessoas sem querer, me atrai demais.
Esta semana, o contexto da vida me deu um grande presente, um dos maiores de minha vida. E o Jornal de Negócios está metido nessa encrenca até o pescoço. Vou relatar essa história para você, raro leitor e rara leitora.
Há algum tempo escrevi uma coluna para o Jornal de Negócios e mencionei um músico que adoro, o Hermeto Pascoal. Para mim, Hermeto é o músico vivo mais importante, o melhor. E mesmo se considerarmos todos os músicos, vivos ou mortos, Hermeto estará entre os maiores, se não, o melhor. Gênio criativo, consegue ir do Jazz ao Clássico, do Samba ao Forró, com a mesma maestria, enfim, um gênio.
Não lembro qual era o tema da coluna, mas Hermeto Pascoal também é fruto do contexto, que eu tanto adoro. Hermeto nasceu em Olho D´Água, lugarejo pertencente à Lagoa da Canoa, que fica no município alagoano de Arapiraca. Albino, não podia trabalhar na roça, como seus pais e irmãos. Por causa disso, ficava na sombra o dia todo. Desenvolveu um ouvido absoluto e costumava pegar pedaços de ferro para fazer sons, enquanto sua família trabalhava de sol a sol para sustenta-lo. Seu pai, com dó do filho albino, lhe deu um instrumento parecido com uma sanfona. Desenvolveu um senso musical incrível e foi tentar a vida nos grandes centros brasileiros. Hoje, são os grandes centros que veem até ele. O mundo musical gira ao redor dele.
Voltando a nosso tema: Vitor Nuzzi é escritor e fez um livro sobre Geraldo Vandré. Há dois anos começou a escrever uma biografia sobre Hermeto Pascoal. Durante sua pesquisa, o que inclui uma entrevista com o próprio bruxo Hermeto Pascoal, ouviu sobre um show histórico que o músico teria feito em São Paulo, no teatro da PUC – Pontífice Universidade Católica, o TUCA. O show teria durado nove horas seguidas, incluindo uma saída do teatro durante a madrugada, uma caminhada nos quarteirões ao redor do Tuca, tudo regado a muita música ao vivo.
Nuzzi, apesar de várias pessoas terem mencionado este show, não conseguia ninguém que estivesse presente no famoso show para entrevistar. Depois de meses contatando fãs do Hermeto, mas sem sucesso em encontrar alguém que esteve no show do Tuca, Nuzzi resolveu digitar “show histórico do Hermeto Pascoal no Tuca”. E o contexto fez com que chegasse a um artigo meu no Jornal de Negócios de Bom Despacho. Leu meu texto, percebeu que eu havia visto esse show ao vivo e entrou em contato com o Alexandre Coelho. Este, com a classe que lhe é peculiar, não passou meu contato sem antes me ligar e perguntar se poderia fazer isso. “Você conhece esse sujeito?”, perguntei. “Não, mas o prefixo do telefone dele é de São Paulo. Não é seu amigo?”, devolveu o Alexandre de Bom Despacho. “Pode passar meu contato”, decidi. Com meu telefone em mãos, Vitor me ligou. Foram duas horas de excelente papo sobre Hermeto Pascoal. Não só relatei tudo que lembrava sobre o show no TUCA em 1979, com detalhes sobre como fiquei sabendo sobre o show (reportagem no Jornal Hoje da Globo), como consegui autorização paterna para passar a noite toda ouvindo música longe de casa, mas também repassei minha memória sobre outro show histórico de muitas horas do Bruxo, que aconteceu ao lado de minha casa, na inauguração do Bar Gente Amiga, estabelecimento do irmão de um amigo de escola, com o qual fui até Bangu, estado do Rio de Janeiro, para encontrar e convidá-lo a tocar no primeiro dia de vida do bar.
Vitor Nuzzi e eu gostamos de conversar e de falar de assuntos que nos são caros. Foi um prazer enorme falar de nosso ídolo Hermeto Pascoal. Se eu não escrevesse para o Jornal de Negócios, esse enorme prazer que tive, não teria acontecido. Circunstâncias da vida.
No fim da conversa ele mencionou ser o autor do livro sobre Geraldo Vandré. Mais meia hora de conversa, pois eu contei a ele sobre minha experiência em comprar ingresso para ver um show do músico no Paraguai, durante a ditadura militar, quando eu era adolescente.
Nuzzi me prometeu três presentes: 1) enviar-me a biografia do Geraldo Vandré. Oba, obrigado, Alexandre Coelho!; 2) enviar-me a biografia do Hermeto Pascoal quando estiver pronta. Oba, obrigado, Alexandre Coelho! 3) quando a pandemia passar e ele for reencontrar o maior músico vivo do mundo, ele me levará junto! Alexandre Coelho, eu te amo! Rarara.
Alexandre Coelho, obrigado por me aceitar em seu jornal. Por sua irresponsabilidade, vivi um dia inesquecível! Obrigado!