A segunda onda de Covid-19 e minha preocupação com BD
ALEXANDRE MAGALHÃES – Em abril de 2020, no começo da primeira onda da pandemia do novo coronavírus, quando percebi que as aulas presenciais não voltariam tão rapidamente à normalidade, decidi ir para Bom Despacho. Acabei ficando sete meses ininterruptos na cidade, para desespero de minha namorada bom-despachense, acostumada a me ver por três ou quatro dias a cada quinze dias.
Voltei a São Paulo no final de setembro, forçado que fui pelas circunstâncias de minha demissão em uma das faculdades na qual eu dava algumas aulas. Continuo em minha cidade natal, aguardando o recebimento das últimas verbas rescisórias, mas já planejando minha ida a Bom Despacho.
Coincidentemente, minha próxima ida a Bom Despacho estará relacionada ao novo coronavírus, mais especificamente, à segunda onda da doença. Na Europa, a segunda onda da covid-19 já começou e muitas cidades decidiram refazer o fechamento total das lojas e comércio em geral. No Brasil, o número de contaminados e mortos voltou a subir. Em São Paulo, vários hospitais voltaram a ter suas UTIs completamente lotadas por pacientes da covid-19. A morte voltou a rondar as pessoas próximas, como no início da pandemia. Meu vizinho de frente morreu na terça-feira, dia 17 de novembro, vítima da doença.
Os jornais e noticiários voltaram a discutir um novo “lockdown”, palavra estrangeira para fechar tudo novamente.
Muitos paulistanos começam a imaginar que se voltar a fechar tudo, o desemprego na cidade será infernal. Há setores que sofrerão demais, como a área de educação, que sofre com uma grande fuga de alunos das escolas privadas em direção às públicas, além de academias de ginástica, restaurantes, bares, comércio em geral, enfim.
Minhas preocupações estão mais concentradas na saúde das pessoas. Volto a ficar muito preocupado com minha velha mãe, com seus setenta e seis anos de idade, meus irmãos, meus amigos, meus alunos…
Também me preocupo com minha própria vida profissional: em outubro, assumi uma posição importante em uma multinacional chilena, mas, se o país parar novamente, é muito possível que a recém-iniciada operação da empresa no Brasil seja interrompida, para ser retomada em algum momento do futuro, quando a previsibilidade da economia seja possível.
Preocupação com Bom Despacho
Penso no impacto que um novo fechamento de tudo em Bom Despacho pode causar para a economia da cidade, para o emprego dos mais necessitados, para as escolas da região. Volto a pensar com mais preocupação na saúde de minha sogra e sogro, pertencentes ao grupo de risco, de meus amigos da cidade, dos parentes de minha namorada bom-despachense, com os quais desenvolvi uma relação de carinho, como se parentes meus fossem.
Fico triste de não ter tido a chance de frequentar nenhum dos Ranchos, grupo de músicos de Bom Despacho, que se reúnem uma vez por mês para ouvir boa música, regada a boa bebida e comida mineira de qualidade. Fico mais triste de pensar que posso passar mais um bom tempo sem vivenciar estes encontros maravilhosos, caso a segunda onda da covid-19 se concretize.
Espero que na segunda onda do novo coranavírus eu consiga ser tão feliz quando na primeira, já que pude ficar alguns meses nessa cidade tão interessante e tão diferente de São Paulo. Feliz por estar ao lado de minha amada namorada, com sua agradável e constante companhia para correr pelas estradas de chão da região, para pedalar por lugares lindos, para caminhadas pelas ruas do bairro pelo simples prazer de andar e conversar sem muito compromisso, para abrir um vinho e assistir abraçados a um bom filme.
Feliz por voltar a tomar meu café espresso na companhia do Ivan no Na Praça Lanches, por encontrar e trocar umas palavras com pessoas que conheci em minhas idas à cidade, como seu Tarcisio do Xuá Lanches, o Saul da loja de produtos orgânicos, o Fabinho, do delicioso restaurante que adoro frequentar, o Marcelo Cabral, que encontro em vários pontos da cidade, sempre com um ótimo humor e um sorriso no rosto, por voltar a conviver com a Eleuza, a Tida e a Iza, pessoas maravilhosas que ajudam na administração das casas de minha namorada e sogros, tia Tita e tio Vicente, donos de um bar delicioso no bairro São José, entre dezenas de outras pessoas que adoro conviver quando estou em Bom Despacho.
Bom Despacho, espero encontrá-la como a deixei, que a segunda onda da covid-19 não a atinja em cheio e que eu repita o período feliz que vivi aí há alguns meses.