Afinal, o que é mesmo política?

LÚCIO EMÍLIO – Bom Despacho se prepara para ir às urnas no próximo dia 15 de novembro. Em meio à pandemia, cada um trazendo consigo a desconfiança, a maioria lamentando tantos mortos e todos com muito medo do futuro. Afinal, há um desconcerto no mundo todo, mundo que muitos insistem jamais será o mesmo. A sociabilidade foi profundamente afetada pelo imperativo de permanecer em casa, portar uma máscara, guardar distância do seu amigo, do seu parente e do seu vizinho.

Todos sabemos que o Brasil ficou profundamente dividido e confuso diante da ameaça do vírus desconhecido, qualificado de gripezinha, aqui, e de monstro implacável e fatal, acolá. O que mais nos surpreendeu, no entanto, foi a acirrada disputa política em torno da emergência de um grave problema coletivo. Em muitos casos, o interesse pessoal, em detrimento do interesse público, falou mais alto. Quantos se pronunciaram com o único propósito de aparecer na mídia e quantos se banharam no jorro de dinheiro que as torneiras do pânico e da desinformação abriram sobre eles?

Nesse momento de ir às urnas – e fazer a democracia respirar – não resisto à tentação de meditar sobre o que é em essência a política. Temos que remontar à antiguidade, quando se formavam as primeiras cidades, as pólis, e a concentração de pessoas começava a gerar problemas coletivos, que só poderiam ser resolvidos através de uma assembleia, de um conselho ou de um colegiado de representantes dos habitantes da cidade. A política nasceu assim, da necessidade de solucionar os problemas coletivos. Por exemplo, o cidadão isolado não pode decidir sobre o que é crime e o que não é, sobre o arruamento a ser estabelecido na cidade, sobre o que fazer em caso de guerra ou invasão por parte de uma cidade vizinha. Esses representantes só se reuniam quando o problema coletivo surgia. Solucionado o problema, os conselhos se dissolviam. Nenhum pagamento havia para esses “políticos”, ou seja, para esses cidadãos que conheciam a arte e a ciência de solucionar os problemas da comunidade. Essa ideia da política como serviço relevante e voluntário perdurou no tempo. A vereança gratuita, no Brasil, só foi extinta há poucas décadas.

A doença que nos assusta é um desses problemas políticos, coletivos, que, no passado remoto, levava os cidadãos mais sábios e mais prudentes a formar uma assembleia e, solidários com o sofrimento e o risco que rondavam seus iguais, a se posicionarem na linha de frente de uma luta leal e honesta, porque eram políticos de verdade. Política era a arte e a ciência de resolver os problemas coletivos. Nada mais.

Concorrer a um cargo público é um gesto de grandeza. Admiro aqueles que se lançam à luta política, porque no fundo estão imbuídos do desejo de realizarem algo pela comunidade. É preciso ter muita coragem para incluir o próprio nome numa lista, que será submetida à apreciação do eleitor e dividirá as opiniões. Os cargos em disputa são poucos e os concorrentes são muitos. Os problemas coletivos estão aí e são desafios permanentes para nossas prefeituras, câmaras e assembleias. Para os que saírem vitoriosos das urnas a guerra estará apenas começando. Precisamos de ar puro, águas superficiais cristalinas, ensino público de qualidade (reconhecimento remuneratório aos mestres), baixos índices de criminalidade e violência, oferta de empregos, políticas de saúde, opções de lazer, sobretudo para nossas crianças, adolescentes e idosos. Esta lista é meramente ilustrativa. Demandas urgentes, recursos escassos.

Vamos votar num momento difícil, mas estamos convictos de que é pelo resgate do verdadeiro sentido da política, tanto pelos eleitores quanto pelos candidatos, que construiremos uma Bom Despacho mais próspera e feliz.

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