A Difusora das vozes do além
LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – Essa é uma história de fantasmas. Certa noite, depois de desligar o computador bem tarde, verifiquei que a caixinha de som ainda continuava transmitindo alguns sussurrados sons. Cheguei o ouvido bem perto, ouvi vozes que sussurravam sei lá que segredos, mas que ao meu ouvido permaneciam imperceptíveis. Mas pude notar que uma voz falava, dava uma pausa, continuava falando.
Imaginei, então, que seriam vozes do além, pessoas mortas tentando fazer algum contato com os vivos. A experiência talvez fosse como a da escritora Hilda Hilst, que há muitos anos atrás arranjou um gravador (de tecnologia avançadíssima, suponho) através do qual conseguia captar as vozes do além. Hilda estava desatualizada: recentemente, ao assistir ao filme Nosso Lar, pude verificar que já existe até mesmo internet no além. Os médiuns serviriam como uma espécie de caixa de e-mail dos espíritos.
Inspirado por tais reflexões, decidi levar a questão das vozes dos espíritos a um amigo já iniciado nos mistérios desses outros mundos. Ele escutou atentamente meu relato e me disse que, sim, os mortos poderiam estar tentando um contato, pois no além há cientistas que estão buscando contato com esse mundo aqui, assim como nós buscamos o “continente desconhecido” que vem depois da morte.
Tempos depois, então, ele mandou alguém que seria algo como que um técnico em assuntos metafísicos para examinar a caixinha de meu computador. Ele ouviu e, logo, irritado, me esculachou:
–Que mané voz do além que nada! É a Rádio Difusora, sô!
Desconcertado, vi que realmente era a Rádio Difusora de Bom Despacho, que, com sua potência assustadora, tem a capacidade de “pegar” até mesmo em uma caixa de fósforos!