Padre Tiãozinho continuará sendo a luz dos viventes
Parodiando o grande Manoel Bandeira, imagino Padre Tiãozinho chegando às portas do céu:
– Licença, São Pedro!
E São Pedro, bonachão:
– Ah! É você, Sebastião, meu fiel pastor, precisa pedir licença não!
Acho que foi assim quando os dois se encontraram nas portas do paraíso celeste. Paraíso que foi feito para acolher as pessoas boas, as almas santas, aqueles que só fizeram o bem para seus semelhantes lá no Planeta Fumaça, dos desmatamentos e das queimadas.
Assim vejo padre Tiãozinho. Como pessoa humana, incomparável. Comunicativo, manso, prestativo, pronto a servir a quem o chamasse nos cultos religiosos. Numa festa familiar. Numa pescaria com famílias amigas, como o João “Macota” e a dona Nelzi nas barrancas do São Francisco. No exercício de sua missão como sacerdote, como capelão do Sétimo Batalhão e pároco militar. Nas horas de dor, nas doenças ou nas encomendações fúnebres. Nos batizados e casamentos.
Se chegava atrasado a um compromisso, a um enterro, a uma missa, um batizado, o povo já estava reclamando impaciente, aí aquele homem, cujo nome era paz, surgia, saudando, abraçando, sorrindo pata todos. Ele não pedia desculpas. Não precisava. A sua mansidão e sua empatia eram o seu pedido de desculpas. Logo todos exclamavam felizes e de bom humor:
– O Tiãozinho chegou!
E repetiam sorrindo diante daquele ser de tanta bondade:
– O Tiãozinho chegou – e o perdoavam também sorrindo.
Ah! Nosso caríssimo amigo, boníssimo padre de Bom Despacho e de toda a região. Como é que esse “maledeto” covid-19 foi tomar você de nós.
Mas você não morreu não. Você ainda vai fazer um carinho com os que o admiravam e amavam tanto. Tenho certeza. Vão ser tantas mágoas, tantas preces, tantos pedidos ao nosso padre querido, que você não terá outra saída. E de vez em quando, vai ter de passar por aqui, pelo Planeta Fumaça, para consolar, atender, para iluminar o coração, as mentes e o espírito dessa gente toda. Principalmente da pequena Japaraíba, seu berço natal, da Vila Militar e desta Bom Despacho que o acolheu carinhosamente como seu filho verdadeiro.
Que você descanse agora da lida dos tantos trabalhos, de tantos amparos e consolos que você proporcionou aos viventes desses lugares, dessas terras do Planeta Fumaça, ensandecido. Você ainda continuará sendo a luz desses viventes a dissipar as neblinas de nossos espíritos em busca dos caminhos que nos ensinou.
Segue, Sebastião calmo, culto, prestativo e bondoso a jornada que todos os seres vivos também seguiremos. Ensine-nos a honrar como você honrou, como poucos, a magnífica mensagem da mais bela página dos Evangelhos, o Sermão da Montanha, do divino poeta e pregador Jesus de Nazaré: “Bem aventurados os pobres e humildes de coração, porque eles possuirão a terra” – como você, que hoje possui também o céu!
Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor e colunista