Estou com saudades de Bom Despacho, terra maravilhosa

Voltei a São Paulo na quinta-feira, depois de seis meses quase ininterruptos em Bom Despacho, com uma pequena parada para ir à Bahia durante quinze dias. Voltei, não por vontade própria, mas porque fui obrigado. Uma das faculdades que eu dava aulas, e que dei aulas on-line durante a pandemia mesmo estando em Bom Despacho, demitiu seiscentos professores, entre estes, eu. Portanto, precisava vir a São Paulo para fazer o exame médico demissional, levar os documentos para o RH da faculdade e aguardar a rescisão.

A sensação de chegar a São Paulo foi curiosa. Parecia que era a primeira vez que eu chegava à rodoviária da cidade. Estranhei a quantidade de pessoas, o barulho do tráfego às 5:00 horas da manhã, a poluição, a sujeira e, por incrível que pareça, estranhei que ninguém me olhava nos olhos e não me diziam “bom dia”, hábitos que os bom-despachenses cultivam e que passei a admirar.

Chegando à estação Santana do metrô, local bem perto de minha casa, estranhei a quantidade de faróis (semáforos, em algumas regiões). Nos novecentos metros que separam a estação e minha casa, atravessei dez faróis. Comparando com Bom Despacho, que funciona bem sem estes instrumentos (só vi um farol na cidade, aquele em frente a Caixa Econômica Federal, na Praça da Matriz), é um número enorme. Mesmo com o farol, atravessar uma rua em São Paulo é uma aventura. Dependendo do horário, de madrugada, por exemplo, vale a lei da selva, ou seja, as regras não valem e é cada um por si.

No dia seguinte à minha chegada, resolvi correr ao redor do aeroporto Campo de Marte, como sempre fiz. A poluição ficou nítida, como eu nunca havia percebido. Parece que corri com um tijolo dentro do pulmão. O cheiro da gasolina expelida pelos carros era quase palpável. Fiquei tão acostumado a correr pelas estradas de chão de Bom Despacho, vendo árvores e bichos, que me choquei com tanta fuligem da cidade na qual nasci. E, percebam que eu reclamava quando passava um carro nas estradas de terra bom-despachenses, levantando poeira. Agora, sinto até saudades da poeira de Bom Despacho, comparando com a poluição de São Paulo.

Outra coisa que me chamou muito a atenção foi a quantidade de moradores de rua em São Paulo. Parece que, com a pandemia, aumentou o número de pessoas dormindo nas ruas. No percurso que corri ao redor do Campo de Marte, encontrei cinco pessoas morando na rua. O que mais impressiona é que este trecho não é movimentado, o que explicaria as pessoas ficarem ali, pedindo dinheiro. Raramente alguém caminha ao redor do aeroporto, portanto, não há chance de estas pessoas esmolarem ali. Perto de minha casa, também encontrei pessoas “novas” vivendo nas calçadas. Triste. Em Bom Despacho, a pessoa mais próxima de um morador de rua que conheço é o Claudio, que anda o dia todo pelas ruas da cidade, muitas vezes com os pés descalços, mas que, claramente, não é um mendigo.

Moro em uma rua com dezenas de restaurantes. Isso é ótimo quando quero sair para almoçar ou jantar fora. Porém, o que me chamou a atenção agora é que centenas de motoqueiros ou bicicleteiros passam horas estacionados na frente dos restaurantes, esperando que um pedido chegue aos estabelecimentos, para que eles possam ganhar algum trocado. Fiquei triste de ver centenas de jovens parados, quase sempre mexendo em seus celulares, tentando ganhar a vida desta forma. É uma mistura entre desemprego e tentativa de ser empreendedor. E são centenas, bem pertinho de minha casa…

Não vou cuspir no prato que comi (ou nasci, no caso). São Paulo tem muitas coisas boas, claro. Raramente vejo alguém na rua sem máscaras e todos os entregadores usam suas proteções em todas as entregas. A gasolina e o álcool aqui são muito mais baratos que em Bom Despacho. Perto de minha casa o álcool está R$ 2,40 e a gasolina R$ 3,90. A cerveja é mais barata aqui do que aí, o que é uma grande vantagem, mas nada que me faça achar que viver em Bom Despacho não seja maravilhoso.

Estou ficando velho. Hoje fiz 54 anos. Nunca pensei que gostaria de morar em outra cidade nesta minha fase da vida. Hoje, trocaria facilmente São Paulo por Bom Despacho.

A qualidade de vida de Bom Despacho é muito melhor. A paisagem, o trânsito, as pessoas, o ritmo de vida é muito melhor em Bom Despacho. Que sorte que tenho em viver estas duas realidades e poder aproveitar o melhor de cada uma delas.

Você, bom-despachense, não negligencie sua cidade. Cuide dela com amor. Sua cidade vale ouro e é maravilhosa. Aproveite!

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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