Construção do CTI e reforma do Pronto Atendimento avançam

O mais precioso dos investimentos que se pode fazer em saúde não é em saúde, mas em educação. O segundo mais precioso investimento que se faz em saúde é na prevenção da doença. Isto significa investir na saúde básica e em medidas ambientais. Mas, mesmo quando estas prioridades são reconhecidas, respeitadas e atendidas, para alguns de nós acaba chegando a hora em que precisamos de um atendimento de emergência ou de um atendimento mais sofisticado como aquele que acontece numa unidade de tratamento intensivo. Por isto também precisamos de um Pronto Atendimento de qualidade e de um Centro de Tratamento Intensivo capaz de atender a casos excepcionais.

Embora conceitualmente o SUS seja um dos sistemas mais bem concebidos do mundo, suas falhas operacionais são grandes. Isto decorre de três fatores principais. O pior deles, o mais desastroso, é a corrupção endêmica. O segundo é a demagogia política que inverte as prioridades dos investimentos. O terceiro é a falta de profissionais formados com vistas à manutenção da saúde e à prevenção da doença e não à cura.

A corrupção

A forma como a corrupção atinge o SUS é ampla, profunda e pervagante. É ampla, porque atinge todos os campos de sua atuação. É profunda, porque percorre o sistema de cima abaixo. É pervagante, porque caminha e se cruza em todas as direções. Seu efeito óbvio é tirar dinheiro do sistema; é desviar para bolsos particulares o dinheiro dos medicamentos, dos exames, do custeio geral da medicina pública.

A demagogia

A demagogia é um crime nefasto porque quase sempre aparece sob a capa de avanços, conquistas e benefícios. Cito dois exemplos de demagogia. O primeiro vem da política. Deputados, senadores e governadores, muitas vezes de comum acordo com prefeitos e vereadores fazem investimentos errados. Eles dão votos mas não trazem saúde para a população.

O segundo vem de profissionais da área médica que promovem medidas de alta visibilidade, mas de pouco proveito para os pacientes.

Entre os maus exemplos de demagogia de políticos estão a construção de hospitais e clínicas especializadas em pequenas localidades. Pior ainda, a colocação de aparelhos caros e de uso restrito em hospitais pequenos.

Estes aparelhos ficam perdidos, sem uso. Não raro enferrujam nas suas embalagens após os políticos terem feito os seus discursos. Os hospitais e clínicas especializadas em cidades muito pequenas também é outro crime contra a saúde pública. Isto porque cidades pequenas não conseguem manter seus hospitais e clínicas especializadas funcionando. Da mesma forma que não conseguem manter aparelhos complexos, como aqueles destinados a ressonância magnética e tomografia computadorizada.

Portanto, é um gasto inútil de dinheiro público.

Já os maus profissionais da saúde são aqueles que transformam a medicina exclusivamente numa máquina de ganhar dinheiro fácil e se esquecem que sua razão de ser é a saúde do cidadão. Em sua demagogia argentária, promovem medicamentos, técnicas e especializações das quais a saúde pública não precisa – ou precisa muito pouco – e desviam dinheiro que deveria ir para áreas médicas em que os resultados são significativos para a população.

Alguns políticos usam mal o dinheiro do SUS para ganhar voto. Alguns profissionais defendem o mau uso do dinheiro do SUS em benefício próprio e de sua categoria. Em ambos os casos, ficam prejudicados o cidadão e sua saúde.

Profissionais inadequados

Finalmente, as escolas de medicina do país estão de olho no estilo americano de fazer saúde mediante o cultivo da doença. Ou seja, lá – país onde se pratica a medicina mais cara do mundo – os médicos aprendem que devem dar pílulas a seus pacientes para que eles continuem comendo e bebendo o que não deviam comer e beber. Este sistema – copiado no Brasil – gera bilhões de dólares para os laboratórios, adoece e mata milhões de pessoas por ano.

Este tipo de medicina não é compatível com o SUS e não atende ao interesse maior da população. Os profissionais médicos do SUS precisam ter uma formação voltada para a manutenção da saúde e prevenção da doença. Precisam praticar uma medicina em que ouvir o paciente e dialogar com ele é quase sempre mais importante do que o exame de laboratório feito ou a pílula eventualmente receitada.

Tanto isto é verdade que as maiores causas de morte no Brasil e no mundo podem ser quase sempre evitadas ou tratadas sem nenhum medicamento ou exame caro. Entre elas, as doenças associados ao tabagismo e ao alcoolismo e as doenças ligadas aos maus hábitos alimentos e a falta de exercício físico, como a hipertensão, o diabetes e a miríade de manifestações delas decorrentes, inclusive as doenças cardiovasculares.

Educação

Não é costume ver investimento em educação como investimento em saúde. No entanto, este é o investimento que dá mais retorno. Estatisticamente, é fato bem conhecido que quanto mais anos de escola a mãe tem, menos problemas os seus filhos têm. Quanto mais anos de escola a pessoa tem, mais longa e saudável é sua vida.

Há muitas razões para isto. Tome-se o caso do tabagismo. Quanto menos anos de escola o cidadão tem, maior a chance de ele ser fumante. Portanto, maior a chance de ter câncer de pulmão ou enfisema pulmonar. O mesmo acontece com as mães: quanto mais anos de escola ela tem, maiores os cuidados que toma durante a gravidez e melhores os cuidados que tem com seus filhos. Em resultado, filhos de mulheres com maior escolaridade adoecem menos e morrem menos.

Conhecidos estes fatos, o Brasil deveriam aumentar os investimentos em educação como meio de melhorar a saúde dos seus cidadãos. Isto, é claro, sem descurar dos investimentos em saneamento básico, meio ambiente e saúde propriamente dita.

Conclusão

A corrupção, a demagogia, a má gestão e a prática da medicina especial em detrimento da medicina feijão com arroz têm prejudicado sobremodo a saúde do Brasileiro. Neste modelo, gasta-se muito com a saúde e os resultados são pífios. Bom Despacho, por exemplo, gasta 1/3 dos seus impostos com saúde. O valor é elevadíssimo, mas mesmo assim, os resultados estão longe de serem ideais (estão muito melhores do que acontece em outras cidades, mas, ainda assim, deixam a desejar).

Por isto, políticos, profissionais da saúde e o eleitor – principalmente este – devem entender que investimentos retumbantes como a aquisição de um aparelho de ressonância magnética para a cidade de Bibocas do Matão, com 1.000 habitantes, não é uma conquista, mas uma perda. A realização de um exame laboratorial caro e de pouca utilidade em detrimento de uma anamnese bem-feita não é vantagem, mas uma desvantagem para o paciente e para a sociedade. Da mesma forma, a consulta precipitada a um especialista antes de consultar um médico de família pode ser um péssimo negócio para todos (exceto para o especialista que fatura o seu).

Estas considerações são importantes quando vamos falar de Pronto Atendimento e de CTI. Estes recursos são nossas últimas linhas de defesa. Elas entram em ação somente quando as outras falharam ou não puderam ser usadas. Dizer isto significa dizer que a prioridade máxima do SUS, seu investimento mais valioso, seus profissionais de maior alcance coletivo estão nas Equipes de Saúde da Família e suas práticas voltadas para a manutenção da saúde. São estas equipes que deveriam resolver a gigantesca maioria das questões de saúde. Melhor ainda: são estas equipes que deveriam impedir que a maioria das questões de saúde surgissem.

Mas, há exceções. Estas são caracterizadas por urgências e emergências inevitáveis e aquelas que, embora potencialmente evitáveis, não foram evitadas por um motivo ou outro. É o caso de um paciente que deixa de seguir as recomendações médicas e sofre uma crise que não precisaria sofrer.

Nestas situações entram em ação as últimas linhas de defesa da saúde do cidadão: Corpo de Bombeiros, SAMU, Pronto Atendimento, CTI.

Trabalhando dentro desta filosofia de hierarquia de importância para a sociedade, a Prefeitura de Bom Despacho primeiro ampliou a saúde básica com a criação de 15 Equipes de Saúde da Família. Este esforço foi complementado com a criação do Centro de Especialidades Médicas, Centro de Especialidades Odontológicas, Serviço de Internação Domiciliar, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Saúde Mental.

Logo depois ampliou os investimentos para criar o SAMU e trazer o Corpo de bombeiros. Os dois estão funcionando e prestando relevantíssimos serviços à comunidade.

Finalmente, para completar nossa capacidade de atendimento às urgências e emergências, a Prefeitura está reformando, ampliando e modernizando o Pronto Atendimento e, em parceria com a Santa Casa, construindo o CTI.

O breve início de funcionamento do CTI fechará o ciclo da saúde. O bom-despachense poderá contar com as Equipes de Saúde da Família para ajudá-lo a manter sua saúde e recuperá-la sempre que necessário. Mas, na eventualidade de precisar de atendimento de urgência com a retaguarda médica e tecnológica adequada, poderá contar com os serviços ofertados pelo SAMU, pelo Corpo de Bombeiros, pelo Pronto Atendimento e pelo CTI.

Convite

Ao passar nas proximidades da Santa Casa, não perca a oportunidade: dê uma olhada para o lado do PA. Ali você verá a reforma em andamento. Logo acima, verá que já estão de pé as paredes do nosso futuro CTI. Veja e orgulhe-se daquilo que Bom Despacho está conquistando com o dinheiro dos seus impostos e com uma estratégia de construção da saúde pública bem fundamentada nos conceitos do SUS.

Fernando Cabral

Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

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